Haddad agradece a Lula e faz aceno a Marina e Ciro
Candidato do PT diz que democracia está em risco e planeja mudanças no programa de governo e na coordenação de campanha
No primeiro pronunciamento após passar para o segundo turno da disputa, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, adotou um discurso de conciliação nacional e, sob o argumento de que a democracia está em risco, disse que é hora de ampliar as alianças. Na disputa contra Jair Bolsonaro (PSL), o exprefeito de São Paulo fará mudanças em seu programa de governo para atrair apoios e também em sua equipe.
“Queremos unir os democratas do Brasil, as pessoas que têm atenção com os mais pobres. Queremos um projeto amplo para o Brasil, profundamente democrático, mas também que busque de forma incansável justiça social”, disse Haddad, cercado de correligionários, em um hotel onde acompanhou a apuração. Em seu discurso, ele agradeceu a família, o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso da Lava Jato, chamado de “minha maior liderança”.
Haddad desembarcará hoje em Curitiba para um encontro com Lula, que cumpre pena por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Amanhã ele participará de uma reunião com governadores eleitos, organizada por Rui Costa (Bahia), que vão declarar apoio à sua candidatura.
“Eu me sinto desafiado pelos resultados, que são bastante expressivos no sentido de fazer atentar aos riscos que a democracia corre”, discursou Haddad. “Sempre estive do lado da democracia, não vou abrir mão dos meus valores, inclusive familiares, que infelizmente foram atacados. Vamos para o campo com uma única arma: o argumento. Nós não portamos armas.”
Logo após saber de sua classificação para a próxima etapa, Haddad conversou com três de seus oponentes. Telefonou para Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) e recebeu uma ligação de Marina Silva (Rede). Além de Boulos, Ciro já indicou que se unirá a Haddad.
As mudanças no programa de governo têm o objetivo de conter polêmicas que estão sendo exploradas pela campanha de Bolsonaro. Em conversas reservadas, Haddad já disse, por exemplo, que não concorda com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, antiga bandeira do PT incluída em sua plataforma.
“O momento agora exige que nós estendamos a mão para os brasileiros e brasileiras que, independentemente de partidos, queiram contribuir com a reconstrução democrática do País”, afirmou Haddad, após votar em uma escola de Moema, bairro da zona sul. Na ocasião, o ex-prefeito fez acenos a Marina, a Ciro e também a Henrique Meirelles, candidato derrotado do MDB, dizendo ter “admiração” pelo trabalho que eles realizaram.
Protesto. Moradores dos prédios vizinhos à escola onde Haddad votou fizeram um panelaço e gritaram o nome de Bolsonaro na sua chegada. Militantes do PT que foram ao local com bandeiras e camisetas responderam com o tradicional grito de guerra “Bate panela, pode bater; quem tira o povo da miséria é o PT”.
A nova linha da campanha traz o slogan “Juntos pelo Brasil do diálogo e do respeito” e diz que a esperança vencerá o ódio. Eleito senador, Jaques Wagner será incorporado à equipe, que terá reforço na área digital. Wagner será um dos encarregados das articulações no Nordeste, em busca de adesões.
“Quero que o Alckmin e o PSDB venham com a gente”, disse ele ao Estado, em uma referência ao ex-governador Geraldo Alckmin, que ficou fora do páreo. “Essa política de zerar adversário não vai nos levar a lugar nenhum. A sociedade brasileira é caleidoscópica, não quer isso.” O próprio Haddad vai pedir apoio ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é seu amigo.