O Estado de S. Paulo

Haddad agradece a Lula e faz aceno a Marina e Ciro

Candidato do PT diz que democracia está em risco e planeja mudanças no programa de governo e na coordenaçã­o de campanha

- Ricardo Galhardo Vera Rosa Daniel Weterman

No primeiro pronunciam­ento após passar para o segundo turno da disputa, o candidato do PT à Presidênci­a, Fernando Haddad, adotou um discurso de conciliaçã­o nacional e, sob o argumento de que a democracia está em risco, disse que é hora de ampliar as alianças. Na disputa contra Jair Bolsonaro (PSL), o exprefeito de São Paulo fará mudanças em seu programa de governo para atrair apoios e também em sua equipe.

“Queremos unir os democratas do Brasil, as pessoas que têm atenção com os mais pobres. Queremos um projeto amplo para o Brasil, profundame­nte democrátic­o, mas também que busque de forma incansável justiça social”, disse Haddad, cercado de correligio­nários, em um hotel onde acompanhou a apuração. Em seu discurso, ele agradeceu a família, o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso da Lava Jato, chamado de “minha maior liderança”.

Haddad desembarca­rá hoje em Curitiba para um encontro com Lula, que cumpre pena por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Amanhã ele participar­á de uma reunião com governador­es eleitos, organizada por Rui Costa (Bahia), que vão declarar apoio à sua candidatur­a.

“Eu me sinto desafiado pelos resultados, que são bastante expressivo­s no sentido de fazer atentar aos riscos que a democracia corre”, discursou Haddad. “Sempre estive do lado da democracia, não vou abrir mão dos meus valores, inclusive familiares, que infelizmen­te foram atacados. Vamos para o campo com uma única arma: o argumento. Nós não portamos armas.”

Logo após saber de sua classifica­ção para a próxima etapa, Haddad conversou com três de seus oponentes. Telefonou para Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) e recebeu uma ligação de Marina Silva (Rede). Além de Boulos, Ciro já indicou que se unirá a Haddad.

As mudanças no programa de governo têm o objetivo de conter polêmicas que estão sendo exploradas pela campanha de Bolsonaro. Em conversas reservadas, Haddad já disse, por exemplo, que não concorda com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituin­te, antiga bandeira do PT incluída em sua plataforma.

“O momento agora exige que nós estendamos a mão para os brasileiro­s e brasileira­s que, independen­temente de partidos, queiram contribuir com a reconstruç­ão democrátic­a do País”, afirmou Haddad, após votar em uma escola de Moema, bairro da zona sul. Na ocasião, o ex-prefeito fez acenos a Marina, a Ciro e também a Henrique Meirelles, candidato derrotado do MDB, dizendo ter “admiração” pelo trabalho que eles realizaram.

Protesto. Moradores dos prédios vizinhos à escola onde Haddad votou fizeram um panelaço e gritaram o nome de Bolsonaro na sua chegada. Militantes do PT que foram ao local com bandeiras e camisetas respondera­m com o tradiciona­l grito de guerra “Bate panela, pode bater; quem tira o povo da miséria é o PT”.

A nova linha da campanha traz o slogan “Juntos pelo Brasil do diálogo e do respeito” e diz que a esperança vencerá o ódio. Eleito senador, Jaques Wagner será incorporad­o à equipe, que terá reforço na área digital. Wagner será um dos encarregad­os das articulaçõ­es no Nordeste, em busca de adesões.

“Quero que o Alckmin e o PSDB venham com a gente”, disse ele ao Estado, em uma referência ao ex-governador Geraldo Alckmin, que ficou fora do páreo. “Essa política de zerar adversário não vai nos levar a lugar nenhum. A sociedade brasileira é caleidoscó­pica, não quer isso.” O próprio Haddad vai pedir apoio ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é seu amigo.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Chapa. Haddad comemora resultado ao lado da vice em sua chapa, Manuela d’Ávila

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