O Estado de S. Paulo

Ciro afirma que vai combater o ‘fascismo’

Com 12,5% dos votos, pedetista afirma que tem ‘história em defesa da democracia’, adia definição sobre 2º turno, mas indica apoio a Haddad

- Renan Truffi ENVIADO ESPECIAL / FORTALEZA

Terceiro colocado na disputa presidenci­al, com 12,47% dos votos consideran­do a apuração de 99,83% seções, Ciro Gomes (PDT) disse ontem à noite que sua história é “de defesa da democracia e contra o fascismo”. O candidato adiou uma declaração de apoio para o segundo turno, mas deixou claro que não pretende estar ao lado do candidato do PSL ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro. “Ele não, sem dúvida”, respondeu Ciro ao ser questionad­o sobre o tema.

Em rápida entrevista em frente a sua casa, em Fortaleza (CE), Ciro afirmou que vai comemorar a reeleição, no primeiro turno, do governador Camilo Santana (PT), que chamou de “superlativ­a”, e a vitória de seu irmão Cid Gomes (PDT) para o Senado, ambos de sua base de apoio no Estado. “Sou especialme­nte agradecido ao Ceará. E uma profunda gratidão ao povo brasileiro”, completou.

Ao ser questionad­o se declararia apoio no segundo turno ao candidato do PT, Fernando Haddad, que nos últimos dias fez acenos a Ciro, respondeu: “Eu costumo decidir as coisas assim (de forma rápida), mas é que, agora, eu represento um conjunto muito grande de forças. O meu espírito é continuar fazendo o que eu fiz a minha vida inteira: lutar em defesa da democracia e contra o fascismo.”

Há dez dias, Ciro, na tentativa de se cacifar para uma vaga no segundo turno, vinha criticando Haddad e tentando se distanciar do PT em busca de eleitores do centro. A estratégia do PDT represento­u um realinhame­nto do discurso do candidato, que chegou a fazer deferência­s ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, por inúmeras vezes ao longo da campanha.

Além disso, Ciro sempre se colocou mais à esquerda em entrevista­s e debates, quando o PT ainda mostrava dificuldad­es para transferir votos de Lula para Haddad. Em sabatina realizada pelo Estado, no início de setembro, o candidato do PDT chegou a dizer que, se tivesse que escolher entre “coxinhas” e “mortadelas”, ele preferiria o lado dos “mortadelas”.

Estratégia. Até a divulgação dos resultados ontem, partidário­s do presidenci­ável apostavam que ele poderia virar na última hora, movimento que, segundo eles, não teria sido percebido por institutos de pesquisa.

Em tom de confiança, Ciro chegou a dizer que estaria no segundo turno. “Estou dizendo para vocês que (o segundo turno) vai ser diferente. Vou unir o povo brasileiro, se eu passar. Estou pedindo a bola, me deslocando, estou na área e o Haddad está no impediment­o. Se passar para mim, faço o gol”, afirmou.

Ainda assim, dirigentes da campanha sabiam que apenas os votos de Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede), se herdados pelo pedetista, não seriam suficiente­s para garantir a ida de Ciro ao segundo turno. A ideia era conseguir votos de antipetist­as e anti-Bolsonaris­tas. A consolidaç­ão do terceiro lugar acabou esvaziando um ato que seria realizado ontem à noite no comitê de campanha, em Fortaleza. Assim que os dados de apuração das urnas apontaram para um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, eleitores e militantes deixaram o local.

A campanha de Ciro colocou um telão para que o público pudesse acompanhar o resultado em tempo real, mas nem mesmo dirigentes da campanha, do partido ou candidatos da legenda apareceram no comitê. Por volta das 21h, a página de Ciro no Facebook foi atualizada com a frase: “Muito obrigado, Brasil”.

Ciro votou em sua seção eleitoral por volta das 9h, no bairro de Praia de Iracema. Depois foi para seu apartament­o. A previsão era de que sua vice, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), também viajasse ao Ceará, mas ela cancelou a presença para acompanhar a apuração das urnas ao lado do filho, Irajá Abreu (PSDTO), candidato ao Senado.

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EDMAR SOARES/AP Voto. O candidato do PDT, Ciro Gomes, dá entrevista depois de votar ontem em Fortaleza; campanha cancelou ato depois da divulgação de resultados

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