O Estado de S. Paulo

Bolsonaro rompe isolamento partidário

Candidato do nanico PSL ganhou apoio ao longo da campanha e isso deve garantir a governabil­idade de um eventual governo, avaliam especialis­tas

- Gilberto Amendola

No início do ano, o deputado Jair Bolsonaro parecia caminhar para ser o candidato à Presidênci­a da República do eu sozinho. Depois de deixar o PSC, tentou se viabilizar como nome do PEN (que passou a se chamar Patriota para recebê-lo). Sem acordo com a legenda, procurou outra sigla considerad­a nanica, o PSL. E com o PSL, já no segundo turno e com o apoio de bancadas de peso, especialis­tas afirmam que Bolsonaro terá maioria no Congresso e condições de governabil­idade caso venha a ser eleito Presidente da República.

A chegada no PSL foi cheia de turbulênci­a. O partido, que iria se chamar Livres, recebeu Bolsonaro e perdeu parte dos seus simpatizan­tes (que formaram o movimento Livres). Em março, Bolsonaro trabalhava para garantir que o PSL tivesse ao menos cinco deputados. Naquela ocasião, ainda existia muita desconfian­ça do mundo político sobre a viabilidad­e de sua candidatur­a.

As pesquisas de opinião foram, aos poucos, mostrando que o candidato seria competitiv­o. Nesse período, com a coordenaçã­o do deputado Onyx Lorenzoni (cotado para assumir a Casa Civil em um eventual governo Bolsonaro), as poderosas bancadas evangélica, do agronegóci­o e da Segurança Pública foram se aproximand­o do candidato.

O movimento se acentuou graças ao fraco desempenho do candidato Geraldo Alckmin. Figuras do chamado Centrão, bloco que apoiou formalment­e Alckmin, foram declarando preferênci­a a Jair Bolsonaro. Candidatos ao governo de diversos Estados também fizeram esse movimento – de olho na onda de votos que um apoio a Bolsonaro poderia significar. O líder da maior igreja evangélica do País e dono da TV Record, Edir Macedo, chegou a gravar um vídeo de apoio ao nome do PSL.

Os candidatos ao governo de São Paulo, por exemplo, João Doria (PSDB) e Paulo Skaf (MDB) já deixaram clara suas inclinaçõe­s bolsonaris­tas no segundo turno. Em Curitiba, Ratinho Jr. – eleito governador do Paraná já no primeiro turno – também indicou que vai de Bolsonaro no segundo turno.

Governabil­idade. O tamanho dessa onda faz com que cientistas políticos acreditem que, no caso de vitória, Bolsonaro terá sim maioria no Congresso e condições de governabil­idade. “Vai ter uma bancada grande – tendo o Centrão como base. Tudo indica que uma bancada de direita mais dura será eleita. Com ela, Bolsonaro vai poder conversar e governar”, comenta o cientista político Claudio Couto (PUC-SP).

O também cientista político Humberto Dantas (USP) segue a mesma linha. “O PSL deve eleger dezenas de parlamenta­res. Além deles, vai contar com o velho centrão, parte do MDB, do PR, do PP, do DEM. As bancadas do Boi, da Bíblia e da Bala são muito fortes no Congresso e devem dar sustentaçã­o a Bolsonaro, caso ele seja eleito.”

Além de tudo, Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do candidato, bateu o recorde de votos absolutos para a Câmara, com mais de 1,8 milhão. Sua votação deve alavancar uma grande bancada do PSL na Câmara.

O cientista político Rodrigo Prando (Mackenzie) lembra que o Centrão e a direita moderada parecem ter abandonado o PSDB. “Tudo indica que os partidos que compõem o Centrão vão aceitar e colaborar com um eventual governo Bolsonaro. Portanto, ele terá, pelo menos de início, uma maioria que vai garantir a governabil­idade.”

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FABIO MOTTA/ESTADÃO-6/9/2018 Força. Aos poucos, as pesquisas começaram a mostrar competitiv­idade de Bolsonaro

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