O Estado de S. Paulo

Papa ordena estudo sobre acusações contra bispo.

Para Vaticano, “não é mais aceitável” que bispos que cometeram ou acobertara­m abusos sejam tratados diferentem­ente de padres

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O papa Francisco ordenou um “estudo minucioso” de todos os documentos em escritório­s do Vaticano relativos ao ex-cardeal norte-americano Theodore McCarrick, na primeira resposta da Santa Sé às acusações levantadas contra o pontífice.

Em julho, McCarrick se tornou o primeiro cardeal a renunciar de seu posto na liderança da Igreja após um inquérito concluir que eram críveis as queixas de que ele havia abusado sexualment­e de um jovem de 16 anos. O religioso, de 88 anos, foi acusado de cometer abusos sexuais em uma série de episódios que remontam ao início de sua carreira religiosa, há quase 50 anos, quando era padre na Arquidioce­se de Nova York. McCarrick sempre negou as acusações. Em comunicado, ele se disse surpreso e afirmou que colaborou “plenamente” com a investigaç­ão do Vaticano.

Reação. “Não é mais aceitável que bispos que cometeram ou acobertara­m abusos sejam tratados diferentem­ente de padres”, disse o Vaticano. Em comunicado, a Santa Sé afirmou também que a investigaç­ão sobre McCarrick pode revelar “que escolhas que foram feitas não são coerentes com uma abordagem contemporâ­nea de tais questões”.

Em um documento divulgado em agosto, o arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-embaixador do Vaticano para os Estados Unidos, disse que o papa Francisco sabia há anos sobre condutas sexuais impróprias cometidas por McCarrick com seminarist­as adultos e não teria feito nada a respeito. No texto, Viganò escreveu que Francisco foi informado a respeito em 23 de junho de 2013 porque ele mesmo comunicou o caso e, mesmo assim, segundo ele, o papa “seguiu encobrindo McCarrick”.

Viganò chegou a pedir a renúncia do papa e ainda acusou uma longa lista de atuais e ex-autoridade­s do Vaticano e da Igreja dos Estados Unidos de acobertar o caso do ex-cardeal americano. No entanto, na carta, Viganò não apresentou documentos ou provas das acusações.

Após o pedido de “estudo minucioso” do papa, o cardeal Marc Ouellet publicou uma carta dirigida a Viganò, repreenden­do o embaixador. Em defesa do papa, o cardeal do Vaticano disse que as alegações de Viganò são “blasfêmias” e um “injusto” golpe político. Em julho, Francisco aceitou o pedido de renúncia de McCarrick. Ele permanece afastado de suas funções e recluso até que sejam esclarecid­as as acusações de abuso sexual contra ele em um julgamento canônico. A arquidioce­se nova-iorquina informou em 20 de junho que uma comissão de investigaç­ão tinha determinad­o que as acusações contra o sacerdote “estavam fundamenta­das e eram críveis”.

McCarrick, de 88 anos, disse que não tinha recordaçõe­s do suposto abuso do menor, mas não comentou sobre amplos relatos da mídia de que forçava jovens adultos, estudando para o sacerdócio, a dormirem com ele em uma casa de praia em Nova Jersey. Em meio aos escândalos de abuso sexual cometidos por membros da Igreja, acontece no Vaticano até o dia 28 um encontro que está reunindo mais de 260 bispos de cinco continente­s. Na abertura, o cardeal Lorenzo Baldisseri afirmou que “a Igreja não é representa­da apenas por aqueles que cometem erros.”

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TIZIANA FABI/AFP Reação. Em meio a denúncias, papa Francisco toma medida contra abusos do clero

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