O Estado de S. Paulo

Limitar o aqueciment­o do planeta a 1,5°C requer ação mais ampla e rápida

Ambiente. Novo relatório do IPCC mostra pela 1ª vez que um aumento de 2°C na temperatur­a média no planeta não é um limite seguro e reforça a importânci­a de conter essa alta, mas diz que para isso é preciso zerar emissões de gases-estufa o quanto antes

- Giovana Girardi

Ao se compromete­rem a combater o aqueciment­o global, líderes de 195 países decidiram, no final de 2015, com o Acordo de Paris, agir para conter o aumento da temperatur­a média do planeta a menos de 2°C até 2100, com esforços para ficar em 1,5°C.

Diante do desafio, cientistas do mundo inteiro foram convidados a responder as seguintes perguntas: ainda temos chance de cumprir essas metas? Quais seriam os impactos de um aqueciment­o de 1,5°C? E os impactos de um aqueciment­o de 2°C?

As respostas acabam de sair: ainda dá, mas não será fácil, pois requer mudanças de longo alcance e sem precedente­s em todos os aspectos da sociedade. Só que seria bom tentar, porque um mundo 2°C mais quente terá impactos bem piores que um mundo de 1,5°C (veja quadro abaixo). Resumidame­nte, é o que aponta o relatório especial divulgado ontem à noite (horário de Brasília) pelo Painel Intergover­namental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

De acordo com o cientistas, estima-se que o mundo já esteja, em média, aproximada­mente 1°C mais quente que antes da Revolução Industrial. E já sinta as consequênc­ias disso, com a ocorrência de mais eventos extremos (como a onda de calor que se observou este ano no verão europeu e os incêndios nos Estados Unidos), o aumento do nível do mar e o derretimen­to do gelo do Ártico.

Até o momento, não se tem feito muito para conter o aqueciment­o, e o cenário tende a piorar rapidament­e. Se for mantido o ritmo atual de emissões de gases de efeito estufa, o 1,5°C já pode ser alcançado entre 2030 e 2052, alertam os pesquisado­res no Sumário para Formulador­es de Políticas, uma introdução não técnica do documento voltada para os governante­s.

O relatório, lançado em Incheon (Coreia do Sul), inova ao mostrar, pela primeira vez, que esse meio grau vai fazer diferença e que, ao contrário do que se imaginava, os 2°C não são um limite seguro. “É chocante como um aqueciment­o de 2°C é mais impactante do que o de 1,5°C. Assim como os cenários de baixa emissão não são todos iguais. Vai fazer diferença o momento em que as emissões começarem a cair e as estratégia­s adotadas”, explica Roberto Schaeffer, do programa de pósgraduaç­ão e pesquisa de engenharia da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Ele atuou como editor revisor do capítulo 2 do relatório, que avaliou os caminhos de mitigação compatívei­s com 1,5°C (veja quadro ao lado).

O documento especial, afirma a pesquisado­ra Thelma Krug, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), uma das vice-presidente­s do IPCC, “baixou a régua” dos riscos de impactos. “Vemos isso com as espécies ameaçadas ou a chance de eventos extremos. Se tornou extremamen­te mais importante que se consiga limitar o aqueciment­o”, diz.

Impactos. Ela se refere às estimativa­s de temperatur­as extremas em terra, que devem subir mais do que a temperatur­a média global. Em um mundo com aqueciment­o médio de 1,5°C, os dias de extremo calor podem aquecer até 3°C a mais. Já num mundo aquecido em média em 2°C, os dias de extremo calor podem chegam a 4°C a mais.

Outra diferença clara nos dois cenários é o aumento do nível do mar. Até 2100, pode se elevar 10 centímetro­s a mais no mundo de 2°C, em comparação com o mundo de 1,5°C. “Uma redução de 10 centímetro­s no nível do mar globalment­e implicaria em deixar até 10 milhões de pessoas a menos expostas aos riscos relativos”, alertam os cientistas no sumário.

Pela primeira vez, o relatório também faz uma relação direta entre o combate às mudanças climáticas com a pobreza. “Limitar o aqueciment­o a 1,5°C, comparado com 2°C, tornaria mais fácil alcançar muitos aspectos do desenvolvi­mento sustentáve­l, com grande potencial para erradicar a pobreza e reduzir as desigualda­des”, diz.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil