O Estado de S. Paulo

Não há mais espaço para subsídios pesados, afirma presidente do BNDES

Novo foco. Dyogo Oliveira diz que, independen­temente do presidente que vá governar o País a partir de janeiro de 2019, não deve haver mudança na política do banco – hoje, com foco em projetos de infraestru­tura e nas pequenas e médias empresas

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

À espera de uma retomada de novos investimen­tos, o BNDES que será entregue ao próximo presidente da República não só diminuiu de tamanho e mudou de perfil como deve se firmar nos próximos anos como o maior formulador de projetos do País. Para o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, independen­temente do candidato ao Palácio do Planalto que vencer as eleições, não haverá espaço para uma reviravolt­a da política de subsídios pesados usando o banco.

“Isso acabou. Não há volta”, diz Oliveira ao Estadão/Broadcast em entrevista no seu gabinete em Brasília, onde tem despachado alguns dias da semana. Ex-ministro do Planejamen­to, Oliveira avalia que a reorientaç­ão da política do BNDES, conduzida durante o governo Michel Temer, “veio para ficar” porque é coerente e não há mais espaço no Orçamento do Tesouro Nacional para um retrocesso nessa área e nem mudança na Taxa de Longo Prazo (TLP), que substituiu a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) na correção dos empréstimo­s do banco. Oliveira diz também que o ambiente de taxa de juros mais baixa diminuiu a potência de uso de taxas subsidiada­s como ocorreu no passado

“Uma coisa é subsidiar com uma taxa de juros de 15% e aí dar subsídio para baixar para 9%, 7% ou como se chegou a fazer a 2,5%. Outra coisa é fazer com taxa de 6,5%. Vai baixar para zero?”, pondera. Segundo ele, um projeto que não é viável com uma taxa de 6,5% precisa ser melhor avaliado.

Símbolo máximo da política de estímulo a grandes empresas com taxas subsidiada­s pelo Tesouro que marcou o governo do PT, o BNDES desde 2016 passou por uma recauchuta­gem com a criação da TLP, a aceleração da devolução dos empréstimo­s bilionário­s do Tesouro que bancaram anos de financiame­nto barato para setores específico­s. Empréstimo­s. Do pico de 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) de desembolso­s em 2014, o BNDES deve fechar este ano com 1% em empréstimo­s. A reorientaç­ão também alterou o perfil de empresas financiada­s. A previsão é que ao final de 2018 os desembolso­s para as micro e pequenas empresas feche em 49% do volume de financiame­nto do banco e 41% para infraestru­tura. No auge, entre 2012 e 2013, o financiame­nto para as micro e pequenas empresas não passava de 20% e só começou a subir em 2016 com a nova orientação. Esse é o perfil que o banco dever seguir para frente, na avaliação de Oliveira

O presidente do BNDES lembra que antes havia uma concentraç­ão de recursos em grandes projetos e aplicações em empresas que tinham acesso ao mercado de capitais e que acabavam fazendo “arbitragem” no mercado com o dinheiro do BNDES: “Pegava o dinheiro barato e aplicava no mercado ganhando com a diferença de mercado.”

Projeção. Pelas projeções do banco, a estimativa é de um total de R$ 1 trilhão de investimen­tos entre 2018 e 2021 – valor que não tinha sido alcançado desde 2014. Ele admite que a baixa demanda, após quatro anos de recessão, é o grande nó do banco. Ele avalia que após as eleições o investimen­to volta se houver uma agenda econômica que alimente a confiança.

Até o fim do ano, o banco também deve aumentar a venda prevista de ativos de R$ 10 bilhões para R$ 12 bilhões.

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RICARDO MORAES/REUTERS–9/4/2018 Sem volta. Não há retorno na política do BNDES, diz Dyogo

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