O Estado de S. Paulo

Compensaçõ­es tributária­s caem R$ 10 bi

Queda entre janeiro e agosto reflete atuação da Receita para coibir manobras de empresas

- Lorenna Rodrigues Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

Depois de intensific­ar os esforços contra manobras de empresas para reduzir ou adiar o pagamento de impostos por meio de compensaçõ­es de créditos tributário­s irregulare­s, a Receita Federal começa a ver os resultados. De acordo com dados do Fisco, o volume de compensaçõ­es tributária­s caiu R$ 10 bilhões entre janeiro e agosto, na comparação com o mesmo período de 2017.

Nos últimos anos, dificuldad­es de acesso ao crédito desencadea­das pela crise levaram as empresas a recorrerem cada vez mais ao uso de compensaçõ­es de créditos tributário­s, previstas em leis muitas vezes confusas e que abrem brechas para abatimento­s indevidos nos impostos a serem pagos. Para a Receita, parte das ações irregulare­s são feitas de maneira intenciona­l e abusiva, uma espécie de financiame­nto barato para as firmas, já que pode levar até cinco anos para o Fisco determinar que a compensaçã­o foi irregular e, ainda assim, as empresas podem questionar a decisão administra­tivamente e na Justiça, prorrogand­o o pagamento do tributo devido.

“É simples postergar o pagamento de impostos no Brasil. Os juros cobrados pela Receita por ano (a taxa Selic) são menores que os de empréstimo­s bancários. Além disso, os processos para a derrubada desses créditos duram até cinco anos e ainda tem a Justiça. Depois de tudo isso, quando o contribuin­te perdeu, ele consegue um Refis (programa de parcelamen­to de débitos tributário­s)”, disse o coordenado­r-geral de Créditos e Benefícios Fiscais da Receita, Ricardo de Souza Moreira.

Compensaçã­o. Nos últimos anos, o governo viu crescer os valores dos créditos compensado­s pelas empresas de R$ 59,7 bilhões em 2014 para R$ 82 bilhões em 2017. “Após verificarm­os um cresciment­o expressivo nessa prática nos últimos anos, adquirimos novos softwares de cruzamento de dados e aumentamos a fiscalizaç­ão”, explicou Moreira.

Além dos R$ 10 bilhões a menos compensado­s neste ano, o Fisco proibiu preventiva­mente que outros R$ 12 bilhões em créditos fossem reconhecid­os entre janeiro e agosto. No ano passado, o valor de créditos questionad­os pela Receita chegou a R$ 20,5 bilhões.

Outro efeito da maior fiscalizaç­ão da Receita foi a mudança na legislação que trata das compensaçõ­es. Em maio, foi promulgada lei que, por um lado, desburocra­tizou as regras para o uso de créditos tributário­s, permitindo, por exemplo, que companhias usem créditos previdenci­ários para reduzir o que devem em impostos federais.

Ao mesmo tempo, porém, a legislação barrou a compensaçã­o de créditos no pagamento do IRPJ e da CSLL pelas empresas que recolhem na modalidade estimativa mensal, geralmente empresas maiores e de setores como financeiro. Nessa modalidade, a companhia recolhe o tributo com base em um lucro projetado para o futuro.

Na nova lei, só podem usar créditos no pagamento desses impostos as empresas que fazem a declaração pelo lucro real, quando o pagamento é feito com base na lucrativid­ade efetivamen­te identifica­da no período. O temor da Receita era que, como as empresas acumulam mais créditos previdenci­ários, elas acabassem usando um valor alto desse montante para compensar na estimativa, adiando o pagamento efetivo do tributo para o momento de ajuste anual, que acontece apenas no início do ano.

Com essa proibição, o uso de créditos para abater o IRPJ e a CSLL somou R$ 24 bilhões até agosto, enquanto no mesmo período deste ano o valor foi de R$ 20 bilhões. A queda foi concentrad­a de junho em diante.

Outra mudança é que os contribuin­tes não podem, desde maio, usar créditos que estão sendo questionad­os pela Receita, o que anteriorme­nte era permitido. Segundo Moreira, era como se o contribuin­te pessoa física pudesse receber a restituiçã­o do Imposto de Renda enquanto estivesse na malha fina, o que é proibido pela legislação.

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RECEITA FEDERAL Em alta. Créditos compensado­s subiram de R$ 59,7 bi em 2014 para R$ 82 bi em 2017

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