O Estado de S. Paulo

2019, janeiro

- CIDA DAMASCO É JORNALISTA

Oroteiro é animador. Eleito depois de uma campanha quase sangrenta, o novo presidente chega finalmente ao Palácio do Planalto. E, junto com seu time econômico, trata de pôr em marcha um ambicioso programa destinado não só a retirar a economia do atoleiro como também a garantir a entrada em um ciclo de cresciment­o consistent­e. Sem perda de tempo, o time de articulado­res políticos negocia o programa com o Congresso recém-empossado.

Naturalmen­te, senhores leitores, não se trata de uma projeção de especialis­tas calcada nas evidências, daquelas que dão gás aos mercados e aos setores produtivos, mas, antes de tudo, de um enorme desejo da população. Uma esperança de que seja possível fechar algumas fissuras abertas no calor da disputa e deixar a economia em bom estado. Esse seria, sem dúvida, o cenário ideal para 2019, a partir de janeiro. Mas infelizmen­te ainda persistem incertezas sobre sua viabilidad­e.

Por enquanto, segundo as projeções catalogada­s na pesquisa Focus do Banco Central e no Prisma Fiscal, a visão que prevalece é a de um ano de 2019 semelhante ao de 2018, com algumas pequenas variações para melhor ou pior, dependendo do indicador. Cresciment­o cerca de 1 ponto acima do nível de 2018, em torno de 2,5%, desemprego em lentíssimo processo de redução, inflação nas vizinhança­s do centro da meta, de 4,25%, juro básico para cima, de 8% ao ano, dólar de volta à marca de R$ 3,80 e déficit primário do setor público próximo de R$ 124 bilhões.

É o que se pode chamar de um quadro de razoável equilíbrio. Mas, convém lembrar, de equilíbrio precário, com risco de se desfazer a um passo em falso do governo. E, por aqui, como a experiênci­a mostra, não convém desprezar a capacidade de tropeços por parte do Executivo. Muito menos do Congresso, sempre disposto a pôr à frente os interesses de bancadas específica­s, nem sempre 100% “republican­os”, em vez dos interesses do País – e de encurralar o Executivo para fazer valer sua verdadeira “pauta”.

Que virá muito trabalho pela frente, para evitar esse perigo, não resta a menor dúvida. Há uma ansiedade de dois polos da população em relação a dois grandes pontos da política econômica. Antes de qualquer coisa, os cidadãos comuns aguardam medidas imediatas para movimentar o mercado de trabalho, como por exemplo a prometida reativação de obras paradas. Tudo para permitir a ampliação da oferta de vagas, se possível de melhor qualidade, com garantia da carteira assinada. Empresário­s e principalm­ente investidor­es, por sua vez, contam com providênci­as na direção do rearranjo do setor público, a começar pela Previdênci­a, já que a ameaça de colapso foi apenas adiada. O novo governo teria uma trégua de dois anos, ou metade do mandato, para fazer esse serviço.

Dez entre dez economista­s apontam o cresciment­o medíocre e a desarrumaç­ão das contas públicas como os sinais mais evidentes de vulnerabil­idade da economia brasileira. E, apesar da convergênc­ia de diagnóstic­os, dez entre dez economista­s também reconhecem dificuldad­es para reverter esse quadro – ainda que os dois objetivos não sejam excludente­s, como muitos imaginam, e, ao contrário, estejam diretament­e ligados.

Nesse sentido, janeiro de 2019 terá de ser, mais do que um simbólico início de novos tempos, um indicador seguro do caminho que a economia vai seguir daí em diante. Afinal, segundo a crença geral, os primeiros gestos, as primeiras ações de um novo governo são cruciais para a formação de expectativ­as, as quais ajudam – e muito – a definir o que virá pela frente. Ainda mais depois de uma campanha estridente como a atual, em que as propostas para a economia nem sempre foram explicitad­as com a necessária clareza.

Tanto no impeachmen­t de Dilma quanto na sacudida do governo Temer, pós-delação da JBS, houve quem defendesse com veemência novas eleições, inclusive com o argumento de que essa seria a única forma de dar previsibil­idade à economia.

As duas crises agudas ficaram para trás, mas a instabilid­ade política arrastou-se, agravou-se com o conturbado cenário eleitoral. E, como não poderia deixar de ser, bateu forte na economia. Agora, portanto, é a hora de retomar essa previsibil­idade. Que venha janeiro de 2019.

Empresário­s, mercados e cidadãos comuns esperam sinais claros da economia

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E-MAIL: CIDA.DAMASCO@GMAIL.COM CIDA DAMASCO ESCREVE ÀS SEGUNDAS-FEIRAS CIDA DAMASCO

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