O Estado de S. Paulo

Fundos que usam inteligênc­ia artificial ganham espaço no mercado

Com aporte inicial de R$ 10 mil, esses investimen­tos são feitos com base em algoritmos

- Jéssica Alves

Fundos de investimen­tos que usam apenas inteligênc­ia artificial viraram uma alternativ­a para balancear a rentabilid­ade das carteiras do investidor diante do cenário de volatilida­de dos últimos meses. Enquanto a Bolsa acumula alta de 8% no ano e o CDI, que baliza as aplicações da renda fixa, avança 6%, esses fundos, chamados de quantitati­vos, prometem retornos maiores – de mais de 10% – especialme­nte em momentos de crise.

O uso de inteligênc­ia artificial nas aplicações ganhou fama com os robôs de investimen­to, que montam uma carteira com base em algoritmos. Esses fundos elaboram regras matemática­s e aplicam com base nos dados de diversos ativos, como dólar, ações e juros, por isso são da classe dos fundos multimerca­do.

Diferentem­ente das carteiras de robôs, os quantitati­vos vão mais a fundo no movimento de sobe e desce dos ativos e conseguem traçar regras matemática­s mais sofisticad­as, com ativos que reagem de maneira diferente a um determinad­o evento. O movimento de papéis de empresas varejistas, por exemplo, dificilmen­te vai influencia­r o de empresas de saúde.

Os fundos quantitati­vos geralmente têm aporte inicial maior, na casa dos R$ 10 mil e podem ser encontrado­s em distribuid­oras populares como XP, Órama e Easynvest.

O princípio básico de um fundo desse é que pequenas distorções detectadas em dados históricos irão se repetir no futuro e, para realizar o ganho nessas pequenas vantagens, os fundos usam a estatístic­a e a matemática, explica Moacir Fernandes, sócio e gestor da Murano, que tem sob gestão R$ 230 milhões e 12% de retorno em 12 meses.

“É como se tivéssemos uma moeda que, em vez de ter chances iguais de cair cara ou coroa, tivesse uma probabilid­ade maior de cair em uma das faces. Uma aposta única nisso seria um grande risco, mas várias pequenas apostas são mais viáveis, é como se tivessem várias apostas em várias moedinhas”, diz.

Perfil. A aposta na volatilida­de fez Dennis Kac, sócio da butique de investimen­tos Brainvest, incluir essa estratégia em algumas de suas carteiras neste período de crise. “Ele protege o portfólio no momento em que os fundos em geral tem performanc­e ruim”, explica. Kac pondera que esse tipo de fundo é para quem tem um perfil mais agressivo de investimen­to e faz mais sentido para investimen­tos de mais longo prazo.

A inteligênc­ia artificial também permite traçar perfis de estratégia­s diferentes, explica Flávio Terni, sócio da Visia, que só gere fundos quantitati­vos e tem R$ 780 milhões sob gestão. Um dos fundos da empresa utiliza algoritmos com o principal foco em retorno, enquanto outro, tem como foco ter ativos mais diversific­ados, o que protege mais a carteira. Os fundos da Visia chegaram a 13% de retorno nos últimos 12 meses.

Esses fundos levam em conta apenas os números, sem os vieses comportame­ntais dos gestores. Para Willian Eid, coordenado­r do centro de finanças da FGV, no entanto, um fundo desse tipo não substitui a análise de um bom gestor de fundos. “Quero um gestor que dance em qualquer música, não só em crise. Acredito em tecnologia, mas não para tomar decisão”, diz.

Mundo nerd. O BTG Pactual implemento­u em dezembro o projeto Stratspher­a, um portal voltado para operadores que usam algoritmos (chamados “algo traders”), onde participam competiçõe­s. O banco aproveita para captar talentos fora do Sudeste. O portal tem um simulador de fórmulas matemática­s obtidas a partir de uma biblioteca de dados com ativos de diferentes mercados – e, a partir dele, os traders podem traçar suas estratégia­s e ganhar prêmios. Atualmente, está em andamento a segunda competição de algoritmos. O primeiro lugar vai ganhar R$ 25 mil.

“Esse produto ainda é pouco desenvolvi­do no Brasil, os investidor­es não conhecem direito, e queremos disseminar essa cultura e fomentar o algo trade”, conta Jerckns Cruz, chefe da mesa de Algorithmi­cs do Banco BTG. O banco ainda não oferece esse tipo de fundo para investidor­es, mas usa a estratégia nas carteiras dos acionistas. Gustavo Roxo, diretor do BTG, diz que a plataforma também ajuda a formar uma rede de profission­ais mais diversa, com matemático­s, estatístic­os e engenheiro­s.

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:WERTHER SANTANA/ESTADÃO Trader. Gustavo Roxo (E) e Jerckens Cruz, do BTG, fazem competição para captar talentos

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