O Estado de S. Paulo

Sete entre dez investidor­es deixam o dinheiro na poupança

Pesquisa mostra também que as principais fontes de informação para quem investe são os gerentes de banco e a internet

- Renato Jakitas Pedro Ladislau Leite

Em tempos de conta digital, de corretoras e robôs de investimen­to, sete em cada dez brasileiro­s ainda preferem deixar o dinheiro parado na caderneta de poupança a se “aventurar” por alternativ­as que, na ponta do lápis, mostram-se mais rentáveis – dentro e fora da renda fixa. O dado é de uma pesquisa feita pela Confederaç­ão Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil, em parceria com a Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM).

O levantamen­to entrevisto­u cerca de 700 investidor­es na primeira quinzena de agosto. Dentre as explicaçõe­s para o comportame­nto conservado­r dos poupadores, está uma velha conhecida do setor: a pouca ou nenhuma familiarid­ade com a “sopa de letrinhas” dos investimen­tos, notabiliza­da por produtos como CDBs, LCIs, CRAs e CRIs.

“O brasileiro ainda tem muita dificuldad­e para entender os investimen­tos. O problema pode estar na falta de educação financeira e no desconheci­mento de onde buscar informaçõe­s para investir melhor”, diz o coordenado­r do Centro de Estudos Comportame­ntais e Pesquisa da CVM, Rogério Oliveira, responsáve­l pela pesquisa.

Ele aponta que, na hora de escolher como e onde investir, o gerente de banco figura como a fonte de informação mais confiável para 53% dos investidor­es. Entre os mais velhos, com mais de 55 anos, o porcentual é de 74%.

“O gerente de banco atende muitos clientes ao mesmo tempo e nem sempre tem condições de avaliar o perfil de aplicação daquele poupador”, diz Jan Karsteno, presidente da Planejar, entidade que certifica planejador­es financeiro­s.

A relações públicas Ana Paula Prado conhece bem essa dificuldad­e. Investidor­a há mais de três anos, ela começou a poupar exclusivam­ente com a ajuda do gerente de sua conta bancária. “Fiquei dois anos basicament­e com o dinheiro parado na poupança.” Aconselhad­a por amigos a buscar novas opções, Ana Paula procurou um educador financeiro, que sugeriu aportar os investimen­tos em uma corretora. Também não deu certo. “Fiquei insegura. O banco tem uma agência física, um lugar para ir e reclamar. Não gostei e voltei para o banco.”

Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o investidor deve diversific­ar as fontes de informaçõe­s e não depender exclusivam­ente do gerente do banco para orientar nas escolhas. “Investir envolve planejamen­to e conhecimen­to para discernir e fazer boas escolhas. Deixar que outras pessoas decidam por você é uma atitude ruim porque não incentiva o aprendizad­o.”

Já os mais jovens buscam na internet as dicas para investir. Na web, 44% dos investidor­es procuram informaçõe­s em canais de youtubers e influencia­dores. Um deles é Lucas Silva, de 25 anos. O radiologis­ta começou há três anos a dar os primeiros passos no mundo das finanças a partir de dicas de especialis­tas no Youtube. “Comecei ouvindo falar de vantagens sobre o Tesouro Direto e fiquei curioso. Fui aprender o básico como André Bona”, diz, se referindo ao Blog de Valor, que hoje tem 163 mil seguidores. Depois de um ano investindo em renda fixa, ele quer investir no mercado de ações. Para aprender a operar, Silva acompanha os vídeos de Vicente Guimarães, que tem 17 mil inscritos em seu canal no Youtube.

Bancos. Os responsáve­is pelo setor de investimen­tos do Itaú, Santander e Banco do Brasil destacam que as recomendaç­ões de investimen­tos respeitam o perfil de cada cliente. A dificuldad­e para oferecer produtos além da poupança, relatam, é não ferir, em nome da rentabilid­ade, aspectos como tolerância a risco e necessidad­e de liquidez. As três instituiçõ­es incentivam o uso de canais digitais para que o cliente não dependa apenas do contato com gerentes. Caixa e Bradesco não respondera­m.

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FRANKLIN DE FREITAS Informação. Os mais jovens evitam os bancos e buscam na internet dicas para investir

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