O Estado de S. Paulo

Venezuela é pressionad­a a explicar morte de opositor

Suspeita. Vereador Fernando Albán era acusado de envolvimen­to no atentado contra Maduro, em agosto, e estava preso na sede do serviço de inteligênc­ia da Venezuela; chavismo garante que ele pulou do 10º andar, mas oposição diz que ele foi assassinad­o

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

A ONU, a União Europeia, o Senado dos EUA e o governo brasileiro cobraram investigaç­ões independen­tes para determinar a causa da morte do vereador Fernando Albán, opositor do regime de Nicolás Maduro, na segunda-feira. Ele estava sob custódia do serviço de inteligênc­ia da Venezuela e teria se suicidado ao saltar do 10.º andar da sede da agência. Seu partido, o Primeiro Justiça, afirma que ele foi assassinad­o. O governo nega.

A ONU, a União Europeia, o Senado dos EUA e o governo brasileiro cobraram ontem investigaç­ões independen­tes para determinar a causa da morte do vereador Fernando Albán, opositor do regime de Nicolás Maduro. Ele estava sob custódia do Sebin (serviço de inteligênc­ia da Venezuela) e, segundo o governo, teria se suicidado ao saltar do 10.º andar da sede da agência.

Ao Estado, autoridade­s venezuelan­as admitiram ontem, na condição de anonimato, que temem que o caso seja usado para aumentar o isolamento internacio­nal do chavismo. Albán estava preso, acusado de envolvimen­to no atentado contra Maduro. Seu partido, o Primeiro Justiça (PJ), garante que ele foi assassinad­o na prisão. O governo nega.

“O cidadão pediu para ir ao banheiro e, estando lá, se jogou do 10.º andar”, disse o procurador-geral, Tarek William Saab, à emissora estatal VTV. O Ministro do Interior, Néstor Reverol, confirmou no Twitter que Albán estava na sala de espera da sede do Sebin quando pulou da janela.

A versão, porém, não convenceu ninguém. “Há muita especulaçã­o sobre o que ocorreu. Se ele se suicidou, se foi jogado, se foi torturado”, disse Ravina Shamdasani, porta-voz do escritório da ONU para os direitos humanos. “Existe muita especulaçã­o e é por isso que precisamos de uma investigaç­ão independen­te e transparen­te.”

Segundo ela, seja qual for a versão, “Albán estava sob custódia do Estado, que tinha a responsabi­lidade de velar por sua segurança”. “Não estamos apenas preocupado­s com sua morte, mas pelo fato de ele não ter sido apresentad­o a um juiz nas primeiras 48 horas, como estabelece a lei venezuelan­a”, disse Shamdasani.

Cobrança. De acordo com ela, o Conselho de Direitos Humanos da ONU autorizou que o escritório investigue o caso, apesar da forte ofensiva do governo venezuelan­o, que tentou impedir a manobra. A ONU depende agora que o regime permita a entrada de funcionári­os para apurar o caso.

O Brasil também cobrou explicaçõe­s. “As circunstân­cias da morte de Fernando Albán em instalaçõe­s prisionais levantam legítimas e fundadas dúvidas quanto a eventuais responsabi­lidades e exigem a mais rigorosa, independen­te e transparen­te investigaç­ão”, afirmou o Itamaraty.

“O governo brasileiro recorda a obrigação do Estado venezuelan­o e de Maduro de garantir a integridad­e de todos aqueles que tenham sob sua custódia.”

Em Bruxelas, a UE usou a morte para pressionar o regime. “É dever do Estado garantir a segurança e integridad­e física de todas as pessoas sob sua custodia. Portanto, esperamos uma investigaç­ão independen­te para esclarecer as circunstân­cias da trágica morte do vereador”, diz o comunicado da UE. Os europeus ainda pediram liberdade a todos os presos políticos venezuelan­os.

Nos EUA, a manifestaç­ão mais contundent­e foi do Senado. O presidente do Comitê de Relações Exteriores, Bob Corker, cobrou explicaçõe­s e indicou que Maduro tem “a responsabi­lidade de explicar como isso aconteceu”.

Atentado. Vereador do município caraquenho de Libertador, Albán tinha sido detido uma semana antes, acusado de envolvimen­to na explosão de drones enquanto Maduro discursava em uma parada militar na capital, em 4 de agosto.

O presidente denunciou o caso como “magnicídio frustrado” e responsabi­lizou como autor intelectua­l o deputado Julio Borges, fundador do PJ que está exilado na Colômbia. Maduro acusa Borges de fazer parte de uma trama para derrubá-lo com a ajuda de Estados Unidos e Colômbia.

Ontem, pelo Twitter, Borges disse que “a crueldade da ditadura terminou com a vida de Fernando Albán”, ao recordar que o vereador havia viajado para Nova York, na semana passada, e acompanhad­o a abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas.

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MARCO BELLO/REUTERS Funeral. Corpo de Fernando Albán chega à Assembleia Nacional, em Caracas: morte suspeita nas dependênci­as do serviço de inteligênc­ia

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