O Estado de S. Paulo

Indústria reclama de falta de diálogo com o PSL

Diálogo eleitoral. Presidente da Anfavea, Antonio Megale, e outros representa­ntes do setor produtivo se queixam do diálogo com a equipe do candidato do PSL e da falta de clareza dos planos de governo dos dois presidenci­áveis para o segmento industrial

- Adriana Fernandes/ BRASÍLIA Cleide Silva Luciana Dyniewicz

Setores da indústria brasileira estão preocupado­s com a falta de clareza dos dois candidatos ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), em relação aos programas de governo, principalm­ente em relação ao tema do setor produtivo. As incertezas maiores recaem sobre o candidato do PSL, que obteve mais votos no primeiro turno.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), Antonio Megale, queixouse, ontem, em Brasília, da postura da equipe do PSL. “A equipe de Bolsonaro procura mais o mercado financeiro do que o setor produtivo, principalm­ente o Paulo Guedes”, afirmou.

Guedes, coordenado­r econômico da campanha, está cotado para assumir como futuro ministro de Economia em um eventual governo. Megale também criticou a proposta dele de unificar o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) com a Fazenda e manifestou especial preocupaçã­o com o risco de uma abertura comercial unilateral, com redução do Imposto de Importação, hoje de 35%.

Segundo Megale, a abertura comercial deve ser feita, mas por meio de acordos comerciais, como o que está sendo negociado com a Europa. Ele defende uma redução a zero do Imposto de Importação num prazo de 15 anos e carência de cinco a sete anos antes da alíquota começar a cair. Outra preocupaçã­o da indústria automobilí­stica, que já recebeu muitos benefícios fiscais, é com a votação, até dezembro, da Medida Provisória que cria o Rota 2030, programa que incentiva a pesquisa e inovação. Se não for votada no prazo, ela caduca.

O presidente da Anfavea disse ainda que o candidato que ganhar terá de “chegar” com propostas muito bem definidas diante da “impaciênci­a” dos eleitores, demonstrad­a nas urnas. “Uma coisa é fazer plano estando fora, outra é sentar na cadeira.”

Megale afirmou que o setor não vai se posicionar em relação a candidatos. Ele classifico­u a equipe de Bolsonaro como “mais liberal” e a de Haddad como “mais desenvolvi­mentista” e disse que o problema fiscal deve ser o primeiro problema a ser combatido por quem vencer as eleições.

O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipament­os (Abimaq), João Carlos Marchesan, também afirmou que o diálogo de Bolsonaro privilegia o mercado. “Nos ressentimo­s da mesma situação”, disse. “Não tivemos ainda essa interlocuç­ão e entendemos que a saída do Brasil passa não só pelo agronegóci­o, mas pela indústria também.”

Segundo Marchesan, o setor de máquinas não é contra a abertura comercial, mas ela tem de ser acompanhad­a de uma política de melhora da competitiv­idade por meio de uma reforma tributária para reduzir impostos, reforma da Previdênci­a e equilíbrio fiscal.

Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestru­tura e Indústrias de Base (Abdib), também defende a abertura comercial só após ajustes de mercado para melhorar a competitiv­idade. Isso se faz, em sua opinião, com câmbio controlado, juros baixos, redução da carga tributária e infraestru­tura. “Não pode ser unilateral e feita de supetão.”

Tadini discorda, porém, da crítica à falta de diálogo por parte de Bolsonaro. “Antes do primeiro turno, o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, esteve na Abdib e falou de projetos para integração energética, logística e estrutura de transporte­s e ouviu nossas propostas.”

Os representa­ntes da indústria química também estiveram duas vezes com integrante­s da campanha de Bolsonaro – com Luciano de Castro, professor da Universida­de de Iowa, e com o economista Carlos Alexandre da Costa. “Não se falou, em nenhuma reunião, de junção de ministério­s”, disse o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo.

O executivo afirmou que as demandas do setor químico também foram apresentad­as ao PT e que, com ambas as candidatur­as, houve convergênc­ia em relação à necessidad­e de equilíbrio fiscal e reforma da Previdênci­a. “A única questão é que eles não pensam em projetos setoriais, como gostaríamo­s”.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz afirma, no entanto, que também se reuniu com Guedes e Costa e que vê um grande foco de Bolsonaro em questões de infraestru­tura, aumento de produtivid­ade e redução da carga tributária. “De jeito nenhum (há um diálogo maior com o mercado financeiro)”, disse. Com a equipe de Haddad, a entidade não chegou a se reunir. “Apenas enviamos nosso material.”

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ANTONIO CRUZ/AGANCIA BRASIL-24/4/2018

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