O Estado de S. Paulo

Como imaginar uma inflação de 10.000.000%?

- Heather Scott / AFP TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ É JORNALISTA

Como é um cenário no qual a inflação chega a 10.000.000%? Quando isso acontece, uma coisa que custa US$ 1 passa a custar US$ 100 mil. No entanto, na prática, há alguma forma de se calcular este impacto? Depois de os preços subirem imensuráve­is 1.000% no ano passado, a hiperinfla­ção da Venezuela, país que atravessa uma crise econômica aguda, poderia chegar a 1.350.000% este ano, segundo relatório do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) publicado na segunda-feira.

Além disso, em 2019, essa hiperinfla­ção vai explodir ainda mais e sair da órbita terrestre, chegando a 10.000.000%. Esse número é tão grande e improvável que vários leitores do relatório Perspectiv­as da Economia Mundial (WEO, na sigla em inglês), elaborado pelo FMI, tiveram de contar os zeros nos dedos para se convencer de que leram certo. A situação é tão grave que a Venezuela foi excluída da média regional da lista dos mercados emergentes para que as cifras não fossem contaminad­as.

Após anos de condução errada da economia, com a indústria petrolífer­a que sustenta o país paralisada, a ONU calcula que 1,9 milhão de pessoas deixaram a Venezuela desde 2015. Migrantes desesperad­os fugiram para países vizinhos, como Colômbia e Brasil, em busca de comida e de remédios. A economia venezuelan­a encolheu 14% no ano passado e a previsão é a de que encolha 18% neste ano. A “boa notícia” é que não dá para encolher mais, o que projeta para 2019 uma contração de “apenas 5%”, de acordo com o relatório do Fundo Monetário Internacio­nal.

O FMI calcula que a renda per capita da Venezuela caiu mais de 35%, entre 2013 e 2017, e já prevê uma retração próxima de 60%, entre 2013 e 2023. A entidade calcula ainda que “a hiperinfla­ção venezuelan­a vá piorar rapidament­e, alimentada pelo financiame­nto monetário de um déficit de grande escala e pela perda de confiança na moeda”.

Em agosto, a Venezuela desvaloriz­ou sua moeda, o bolívar soberano, em cerca de 100%. Excluindo-se esse país, a inflação nos países emergentes e em desenvolvi­mento deve chegar a 5% este ano, segundo o FMI. A previsão de cresciment­o global foi reduzida o,2 ponto porcentual, para 3,7%, principalm­ente em razão da guerra comercial entre EUA e China. O FMI também reduziu suas previsões de cresciment­o para países emergentes e em desenvolvi­mento, em comparação com as estimativa­s publicadas em julho, para 4,7% para 2018 e 2019.

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