Haley escapou da humilhação e da ameaça de processos
Nikki Haley foi evasiva ao explicar por que decidiu renunciar (mencionou “limite de mandatos”), mas há indicações de que foi marginalizada pela nova chefia da segurança nacional constituída pelo conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, e pelo secretário de Estado, Mike Pompeo. Ambos (especialmente Bolton) tendem a tratar outros países com uma combinação de beligerância e desprezo, o que dificulta o trabalho de qualquer embaixador dos EUA nas Nações Unidas.
Haley disse (sem ninguém perguntar) que não se candidatará à presidência em 2020, mas estará na campanha de Trump para a reeleição. É uma sacada astuta: levantar o assunto, para que as pessoas venham a comentar, assegurando ao mesmo tempo sua lealdade a Trump.
Entretanto, ela nada disse sobre 2024, mas parece estar pensando numa investida nessa direção, na qual possa ser suficientemente independente para não se desacreditar junto a um eleitorado geral enquanto continua apta a receber um empurrão de Trump que a torne viável para um eleitorado republicano nas primárias.
Mas de certo modo faz sentido que ela se comprometa com o governo Trump. Se quiser se candidatar à presidência em 2024, ou mais tarde (ela tem apenas 46 anos), será bom que tenha um currículo em política externa, ao lado de sua experiência em nível estadual. Trump lhe propiciou isso, mesmo que ter trabalhado para ele possa marcá-la para sempre.
Essa, porém, é uma sina da qual ela pode ter escapado. Da maioria dos que trabalham para ele, Trump exige não apenas servilismo, mas seguidas demonstrações públicas de submissão – do tipo que pode voltar para assombrar a pessoa no futuro caso o governo venha a terminar de maneira ignominiosa. No entanto, uma vez que os americanos prestam pouca ou nenhuma atenção às Nações Unidas, raramente Haley precisou se humilhar em benefício de Trump.
Assim, ela pode ser um dos poucos assessores de Trump a deixar o cargo sem ter caído no ridículo, sem ter sido motivo de escárnio ou sem ter entrado na mira de promotores. Se tiver ambições presidenciais, seu problema será outro: convencer as bases do Partido Republicano de que é trumpista o bastante para merecer seu voto.
Repetindo, Haley é extremamente conservadora e conseguirá manter o compromisso de cortar impostos para os ricos enquanto continua enfrentando inimigos estrangeiros. Mas ela deve ter em mente algo que Mike Huckabee costumava dizer de si mesmo: que era conservador, mas não tinha raiva disso. No Partido Republicano de Trump, isso não convence.
Convencerá algum dia? O partido de hoje pode não ser o mesmo daqui a seis anos. Mas é difícil pensar em qualquer coisa, incluindo um par de derrotas nas urnas, que possa forçar o partido a mudar. No momento, Nikki Haley pode dizer que, embora quase isolada entre aqueles que trabalharam para Trump, ela conseguiu sair com a reputação quase intacta.