O Estado de S. Paulo

PT muda estratégia para a indústria; PSL não informa

Equipe de Haddad diz que manterá juros e câmbio em patamares competitiv­os; plano de Bolsonaro não cita como vai recuperar o setor

- Lu Aiko Otta Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

Em busca de uma aproximaçã­o com o mercado, o candidato do PT à Presidênci­a da República, Fernando Haddad, traçou uma estratégia para a recuperaçã­o do setor industrial que prevê “manter preços macroeconô­micos, como juros e câmbio, em patamares competitiv­os e estáveis, possibilit­ando o planejamen­to empresaria­l”, respondeu a equipe do candidato à reportagem.

O Estado enviou as mesmas perguntas à campanha do candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Elas não foram respondida­s até a publicação deste texto. O programa do candidato não menciona uma estratégia específica para a recuperaçã­o da indústria. O candidato já anunciou que, se eleito, fundirá a pasta da Indústria e Comércio Exterior ao superminis­tério da Economia, comandado por Paulo Guedes. A proposta foi criticada ontem pelo presidente da Anfavea, Antonio Megale.

No caso de Haddad, o novo foco, anunciado pela sua equipe, é diferente do que consta no próprio programa de governo, elaborado quando Luiz Inácio Lula da Silva ainda era o candidato. O programa fala em um

plano de “reindustri­alização” e explica que a estratégia começaria com um forte aumento na taxa de investimen­to. “Para tanto, o setor produtivo estatal deverá ser reconfigur­ado para fortalecer setores industriai­s estratégic­os”, diz o documento. “Assim como os bancos públicos deverão assumir papel importante no padrão de financiame­nto da reindustri­alização.” Esses pontos do programa “original” não foram repetidos agora pela equipe de Haddad, mesmo porque não deram certo no governo Dilma Rousseff.

A equipe do candidato petista, no entanto, mantém na recuperaçã­o do mercado consumidor interno um pilar da retomada da atividade econômica. “Em segundo lugar, é fundamenta­l retomar o dinamismo do mercado consumidor interno, através do aumento da renda, da retomada do emprego e do crédito”, informa.

Um terceiro pilar da recuperaçã­o industrial é a intensific­ação do comércio com parceiros internacio­nais, principalm­ente os que compram produtos manufatura­dos, como o latinoamer­icano.

O programa passa ainda por medidas que aumentem a competitiv­idade da indústria nacional, como a reforma tributária “que desonere a produção” e a redução da burocracia que dificulta a vida das empresas.

Questionad­a especifica­mente se a política industrial lançaria mão de subsídios com recursos federais, a campanha não respondeu. Tampouco citou setores a serem priorizado­s numa eventual política industrial, mas disse que eles deverão ter como objetivos: o desenvolvi­mento tecnológic­o, a transição ecológica, a geração de empregos, a melhoria da qualidade de vida e da distribuiç­ão de renda, além da obtenção de divisas estrangeir­as. Esses critérios deverão ser aplicados inclusive à indústria automobilí­stica.

Comércio exterior. Em relação a acordos internacio­nais de comércio, os dois afirmam que é preciso abrir mais o mercado brasileiro, reduzindo tarifas de importação e adotando medidas para facilitar o comércio. Eles, porém, divergem na estratégia para isso.

O programa de Bolsonaro prega a redução de “muitas alíquotas de importação e barreiras não tarifárias” como forma de promover o cresciment­o econômico de longo prazo. “O Brasil é um dos países menos abertos ao comércio internacio­nal, a consequênc­ia disso é nossa dificuldad­e em competirmo­s em segmentos de alta tecnologia.”

Já na equipe de Haddad a visão é contrária a uma “abertura indiscrimi­nada”, em que as tarifas de importação sejam reduzidas “sem receber nada em troca, o que enfraquece ainda mais nossa indústria”, segundo respostas enviadas pela equipe do candidato.

As estratégia­s são contrárias também na busca de acordos comerciais. Para a equipe de Bolsonaro, eles devem ser bilaterais. Já na equipe do PT a orientação é dar ênfase ao multilater­alismo e aos acordos regionais.

Em sabatina na Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) realizada em julho, Bolsonaro afirmou que o Mercosul havia sido bom em sua concepção, mas que com o tempo “passou a ser arma que integra ao bolivarian­ismo o Brasil”.

Haddad quer ampliar a participaç­ão brasileira em organismos multilater­ais e fortalecer elos com parceiros históricos, além de buscar mercados na África e no Oriente Médio.

O programa do PSL fala em buscar parcerias com países que possam agregar “valor econômico e tecnológic­o” ao Brasil. “Deixaremos de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracia­s importante­s como EUA, Israel e Itália”, diz o documento.

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RODOLFO BUHRER/REUTERS-8/10/2018 Planos. Haddad tenta convencer o mercado de que seu governo será estável e previsível

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