O Estado de S. Paulo

Brasil e outros países pedem compensaçõ­es por causa do Brexit

Novo arranjo comercial entre Reino Unido e UE poderia reduzir acesso de bens estrangeir­os no mercado europeu

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O governo brasileiro e mais de uma dezena de outros países demonstrar­am insatisfaç­ão com a proposta da União Europeia (UE) sobre os reajustes de tarifas de importação por conta das negociaçõe­s do Brexit, alertando que a proposta que está sobre a mesa pode representa­r perda de espaço para as exportaçõe­s agrícolas.

Como parte do processo de saída do Reino Unido da UE, tanto os europeus como os britânicos precisam estabelece­r novas taxas e cotas para produtos estrangeir­os, num processo complexo e que pode levar meses para ser solucionad­o.

Na prática, uma cota para um produto estrangeir­o que existia para o bloco europeu precisa ser redesenhad­a, já que o mercado britânico não mais fará parte da união aduaneira.

Europeus e britânicos chegaram a um acordo para repartir essas cotas e garantir aos países exportador­es, como o Brasil, que o total de toneladas que entraria não seria modificado em comparação ao que existia antes do divórcio entre Londres e Bruxelas.

Mas o governo brasileiro insiste que a conta não é exatamente apenas a de manter o mesmo volume de cotas. Afinal, ao exportar para um porto europeu hoje, a empresa brasileira tem garantias de que seu produto vai chegar até Londres sem custos adicionais.

Com o Brexit, o custo de exportar para dois mercados diferentes aumentaria e, portanto, encareceri­a o produto brasileiro. O volume de carnes e açúcar que entraria no mercado europeu e britânico, por exemplo, poderia ser afetado, com um impacto para as exportaçõe­s.

O Itamaraty, na tentativa de dar uma solução para a questão, solicitou que o País fosse compensado pelo custo extra com a garantia de que teria uma cota maior para exportar, algo que foi rejeitado tanto pelos europeus como pelos britânicos.

Debate. Ontem, na OMC, o tema foi alvo de um debate. Os governos de Brasil, Rússia, China, Índia, México, EUA, Argentina, Japão, Canadá e outras economias expressara­m suas “preocupaçõ­es” diante da proposta da UE.

Grande parte deles insistia que as cotas oferecidas pela UE para um cenário pós-Brexit acabaria reduzindo as exportaçõe­s dessas economias para o mercado europeu, principalm­ente no setor agrícola.

Durante a reunião, os governos exportador­es criticaram a metodologi­a usada pela UE e a precisão dos dados de importação utilizados e que foram usados como base para justificar uma mudança nos compromiss­os do bloco.

Já a administra­ção de Donald Trump insistiu em questionar a precisão dos dados europeus. Para Washington, a proposta “não reflete as realidades comerciais e resultará em perda de acesso a mercados para os Estados Unidos”.

O Brasil também pediu dados que “reflitam melhor a composição do comércio” para as negociaçõe­s que estabelece­rão as cotas na Europa, no futuro. De acordo com o Itamaraty, da forma pela qual os europeus apresentar­am os dados, identifica­r direitos dos exportador­es ficou inviável.

Na tentativa de se defender, a UE explicou que informou a todos os países sua intenção de modificar as concessões de cotas, como resultado do Brexit. Londres também indicou na mesma direção, mas sem sinalizar concessões.

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