O Estado de S. Paulo

Com Bolsonaro, Copom parado

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Após a onda conservado­ra do eleitorado brasileiro no primeiro turno das eleições, resultando na votação surpreende­nte de Jair Bolsonaro e nos políticos de seu partido ou que lhe declararam apoio publicamen­te, cresceu a aposta dos investidor­es de que, caso o candidato do PSL vença a eleição presidenci­al, o Banco Central não mais terá de elevar os juros em 2018.

Isso porque, com Bolsonaro presidente e uma composição do Congresso mais inclinada a lhe dar uma base sólida, aumentou a probabilid­ade de aprovação de reformas necessária­s, como a da Previdênci­a, já no seu primeiro ano de mandato.

Mais ainda: nesse cenário otimista em relação a reformas, cresce também a aposta de que, se a taxa Selic subir em 2019, talvez o ritmo e a magnitude do aperto monetário seja menor do que o esperado.

A alta de juros logo após o segundo turno da eleição presidenci­al, marcado para 28 de outubro, era dada como certa por uma parcela do mercado financeiro em razão de uma disparada do dólar na segunda metade de agosto, quando a candidatur­a de Fernando Haddad (PT) começou a crescer com força nas pesquisas de intenção de voto.

Essa possibilid­ade foi até sinalizada pelo BC na última reunião do Copom, quando utilizou a cotação do dólar a R$ 4,15 para suas projeções de inflação em 2018 e 2019, no chamado cenário de referência (com juros e câmbio constantes). Nesse cenário, a estimativa de inflação em 2018 subiu para 4,4%, quando a meta do BC é de 4,5%. A projeção para o IPCA (o índice oficial de inflação) em 2019 foi elevada para 4,5%, acima da meta de 4,25% para o ano que vem.

No cenário de mercado, que utiliza as projeções dos analistas consultado­s na pesquisa Focus, do BC, a estimativa de inflação em 2018 ficou em 4,1% levando em conta taxa Selic a 6,5% e dólar a R$ 3,83 no fim deste ano. Já para 2019, consideran­do como premissa juros básicos em 8,0% e um dólar a R$ 3,75, o cenário de mercado embute uma projeção de inflação de 4,0%, portanto ainda abaixo da meta oficial de 4,25% no ano que vem.

Ou seja, pelo cenário de referência (mantendo-se constantes juros a 6,50% e dólar a R$ 4,15), o BC teria de elevar a Selic para evitar uma inflação acima da meta em 2019.

Já os analistas projetavam um desfecho da eleição presidenci­al favorável ao mercado financeiro, que seria a vitória de um candidato reformista, daí o dólar voltaria a recuar bastante após o estresse verificado a partir da segunda quinzena de agosto quando Haddad começou a subir nas pesquisas eleitorais. Com a onda bolsonaris­ta varrendo as urnas no primeiro turno, levando o PSL à segunda maior bancada na Câmara, o cenário de mercado na última ata do Copom começa a se assemelhar mais a realidade na fotografia de hoje.

E, com isso, o BC não mais precisaria elevar os juros, até porque, no patamar atual do dólar, a projeção do IPCA no cenário com juros e câmbio constantes cederia abaixo da meta de inflação em 2019. Em comparação com a cotação de R$ 4,15 desse cenário do BC, o dólar fechou na segunda-feira a R$ 3,7635, menor nível em dois meses.

Mas não é só o dólar a única variável que levaria o BC a não mais subir os juros com uma eventual vitória de Bolsonaro: as expectativ­as de inflação permanecer­iam ancoradas e dentro da meta fixada pelo BC.

Havia o temor de que essas expectativ­as começariam a subir e pressionar o BC caso o vencedor da eleição presidenci­al fosse Haddad, considerad­o pelo mercado como menos propenso a levar adiante uma reforma da Previdênci­a.

Mesmo com o estresse no dólar, essas projeções de inflação na pesquisa Focus para 2019 e 2020, por exemplo, seguiram bem comportada­s. Já as estimativa­s de inflação de mercado – a chamada inflação implícita embutida nas taxas de títulos públicos – dispararam ao refletir de imediato o estresse do investidor.

Desde o resultado das urnas no primeiro turno, a inflação implícita vem cedendo com força e, por tabela, as apostas de que, com Bolsonaro no Palácio do Planalto, o Copom pode ficar parado por muito mais tempo do que se esperava.

Com cenário otimista para reformas em 2019, aperto monetário pode ser menor

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