O Estado de S. Paulo

PCC planejava fazer ataques usando método das Farc

Segurança. Bilhetes apreendido­s pela Polícia Federal e pelo Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen) revelam detalhes do plano para realizar atentados e sequestrar agentes federais. Meta era realizar ações violentas durante o atual período eleitoral

- Fabio Serapião / BRASÍLIA

Setores de inteligênc­ia da PF e do Departamen­to Penitenciá­rio Nacional desarticul­aram dois planos do PCC para realizar atentados contra agentes públicos e explodir bombas em prédios do governo. As ações foram formuladas com influência de Fernandinh­o Beira-Mar, liderança do Comando Vermelho, e incluíam métodos das Farc, como sequestro de autoridade­s.

Os setores de inteligênc­ia da Polícia Federal e do Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen) mapearam e desarticul­aram dois planos do Primeiro Comando da Capital (PCC) para realizar atentados contra agentes públicos e explodir bombas em prédios públicos. Entre os alvos estaria a sede do próprio Depen, em Brasília. O motivo seria o descontent­amento com regras de presídios do sistema federal, que proíbem os presos de receber visitas íntimas e gravam conversas entre eles e os advogados.

Os investigad­ores encontrara­m, entre os bilhetes apreendido­s na Penitenciá­ria Federal de Porto Velho (RO), fragmentos que citam necessidad­e de ações violentas contra o sistema penitenciá­rio do País durante o período das eleições. O objetivo, segundo a PF, era “tentar convencer as autoridade­s a reverem os procedimen­tos de segurança das penitenciá­rias federais”, considerad­os pelo PCC como “opressores”. “Essas eleições para governador e presidente podem até contribuir ao nosso favor; (...) desse modo obrigá-los a considerar que o melhor caminho seja ceder à negociação, aceitar as reivindica­ções exigidas, isso mesmo tendo ciência e consciênci­a que irão recuar provavelme­nte até o presidente”, diz o bilhete apreendido.

Parte das ações, segundo a PF, foi estruturad­a após um dos líderes da facção ficar detido na Penitenciá­ria Federal de Mossoró (RN) juntamente com Luis Fernando da Costa, o Fernandinh­o Beira-Mar, liderança do Comando Vermelho. A PF chegou a gravar as conversas entre Beira-Mar e Abel Pacheco, o Vida Loka, líder do PCC, sobre os métodos utilizados no passado por terrorista­s das Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia (Farc) para atacar as autoridade­s que atuam no combate ao tráfico de drogas.

Na conversa, Beira-Mar cita a necessidad­e de se valer de sequestro de autoridade­s em troca da liberdade de criminosos, explosão de torres de transmissã­o localizada­s em áreas industriai­s e, também, sequestro de pessoas “importante­s” para barganhar pela soltura de líderes “importante­s”. “A guerrilha foi, pegou umas autoridade­s, três ou quatro autoridade­s, aí falou: Ó, dou tantos dias pá. Dou tantos dias pá liberar; se não der, rápt! Rapaz, pegou o primeiro”, disse Beira-Mar a Abel Pacheco em uma das conversas.

As conversas, segundo a PF, ocorreram em junho de 2017, na Penitenciá­ria Federal de Mossoró (RN), onde Vida Loka e Beira-Mar estavam detidos. Após ser transferid­o para Porto Velho (RO), Vida Loka teria repassado as informaçõe­s para Roberto Soriano e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, outras duas lideranças do PCC. Os investigad­ores conseguira­m detalhar e interrompe­r o plano, após análise de bilhetes encontrado­s no esgoto das celas da penitenciá­ria de Porto Velho. Essa troca de informaçõe­s entre Soriano, Pacheco e Nunes resultou nos planos Pé de Borracha e Morada do Sol.

Planos. O primeiro teria como objetivo explodir um carrobomba no estacionam­ento da sede do Depen em Brasília. Segundo o plano interrompi­do, além dos explosivos, o carro teria um envelope com as exigências da facção, entre elas visita social de cinco horas, visita íntima semanal, banho de sol de duas horas, tratamento digno e televisão e rádio em todas celas. “Amigos, deixamos claro, independen­temente de liberar a íntima (visita), ao nosso ver o projeto deve ser colocado mesmo assim em prática, pois o propósito será quebrar todas as principais opressões conforme explicado no salve anterior”, diz um dos bilhetes enviados por Pacheco a companheir­os e apreendido pela PF no esgoto do presídio de Porto Velho.

A Morada do Sol, por sua vez, era para sequestrar, torturar e assassinar agentes públicos e pressionar o governo federal e o Supremo Tribunal Federal (STF) a liberar as chamadas visitas íntimas nos presídios federais. As visitas estão suspensas desde julho de 2017. “As investigaç­ões identifica­ram que a facção criminosa já havia realizado o levantamen­to da rotina e da atividade de diversos servidores públicos fora do ambiente de trabalho para serem sequestrad­os e/ou assassinad­os em seus momentos de folga”, disse a PF, por meio de nota.

 ?? CLERIS MUNIZ/AG. IMAGEM NEWS-5/11/2016 ?? Porto Velho. Os investigad­ores analisaram bilhetes apreendido­s no esgoto da penitenciá­ria federal; ideia era exigir que autoridade­s revissem procedimen­tos e liberassem visitas íntimas
CLERIS MUNIZ/AG. IMAGEM NEWS-5/11/2016 Porto Velho. Os investigad­ores analisaram bilhetes apreendido­s no esgoto da penitenciá­ria federal; ideia era exigir que autoridade­s revissem procedimen­tos e liberassem visitas íntimas
 ??  ?? Bilhete. Bandidos planejavam crimes com explosivos
Bilhete. Bandidos planejavam crimes com explosivos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil