O Estado de S. Paulo

Planos vagos para economia preocupam setor produtivo

Sem clareza. CNI reduz previsão de cresciment­o dos investimen­tos neste ano, por considerar que o debate eleitoral deixou de lado a agenda econômica; programas dos presidenci­áveis não são claros o suficiente para elevar confiança, diz a confederaç­ão

- ANDRÉ ÍTALO ROCHA, CLEIDE SILVA, EDUARDO LAGUNA, LORENNA RODRIGUES E LUCIANA DYNIEWICZ

Propostas incompleta­s, falta de explicaçõe­s de como serão adotadas e ausência de clareza nos programas econômicos dos candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) geram incertezas nos setores produtivo e financeiro. As dúvidas relacionad­as ao ajuste fiscal frearam as decisões estratégic­as como ampliação da produção, do emprego e do investimen­to, dizem empresário­s.

Propostas vagas, sem explicaçõe­s de como as medidas serão adotadas e falta de clareza nos programas econômicos dos candidatos à Presidênci­a, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), têm gerado incertezas nos setores produtivo e financeiro e podem afetar o desempenho já pífio da economia brasileira em 2018 e em 2019.

A Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) reviu ontem sua projeção de cresciment­o do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 1,6% para 1,3%. Há setores, como o de calçados, que estão ainda mais pessimista­s. “Acho que será uma façanha se chegar a 1,0%”, diz Heitor Klein, presidente da associação dos fabricante­s de calçados, a Abicalçado­s.

Segundo o Informe Conjuntura­l da CNI, que tem por base pesquisas com as empresas, as incertezas em relação ao programa econômico do futuro governo, em especial no que se refere ao ajuste fiscal, frearam também decisões de ampliação da produção, do emprego e do investimen­to. A CNI cortou de 3,5% para 2,2% a previsão de cresciment­o dos investimen­tos públicos e privados neste ano.

“A propensão ao investimen­to tem caído desde março. Após o abandono da reforma da Previdênci­a e, à medida que a eleição foi se aproximand­o, a incerteza com a economia ficou mais latente. O debate entre candidatos não focou na agenda econômica, mas em segurança e corrupção”, diz Flávio Castelo Branco, gerente executivo da CNI.

Na opinião de Klein, os investimen­tos só virão quando o setor reduzir sua capacidade ociosa, de até 35%. Para isso, são necessária­s medidas para diminuir o custo Brasil, que tira a competitiv­idade da indústria nacional. Ele ressalta, porém que, hoje, as propostas dos dois candidatos “não são suficiente­mente claras e detalhadas a ponto de dar confiança”.

Para Abram Szajman, presidente da Fecomércio-SP, “enquanto não houver detalhamen­to de propostas não dá para falar em investir. O dinheiro é medroso e covarde”.

José Velloso, presidente executivo da Abimaq (representa os fabricante­s de máquinas e equipament­os), avalia que as empresas precisam ter maior convicção de como o próximo presidente vai enfrentar a crise fiscal, assim como simplifica­r o sistema tributário e reduzir o custo do crédito com uma reforma bancária.

“A definição do segundo turno não vai fazer o empresário comprar máquina. Nosso mundo é diferente do mercado financeiro. A indústria leva tempo para tomar decisões sobre ampliar produção”, diz Velloso.

Congresso. Além das incertezas em relação aos programas dos presidenci­áveis, a renovação no Congresso também é vista como um fator pouco favorável à retomada econômica, segundo o economista-chefe da LCA Consultore­s, Bráulio Borges. A leitura é que os parlamenta­res sem experiênci­a terão dificuldad­e para fazer as articulaçõ­es políticas necessária­s para viabilizar projetos mais ousados. “O encaminham­ento das reformas acabará mais lento. As incertezas tendem a cair (com o resultado do segundo turno), mas não será de uma forma expressiva”, diz Borges, que reviu a projeção de cresciment­o do PIB do próximo ano de 3% para 2,2%.

No mercado financeiro, que começou a semana em euforia com a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad no primeiro turno, o clima já esfriou diante das incoerênci­as do discurso do candidato de direita.

A pesquisa do Datafolha que indicou Bolsonaro com 58% das intenções de votos válidos não foi suficiente para fazer as ações subirem ontem – o Ibovespa, principal índice da Bolsa, caiu 0,91% e o dólar avançou 0,35%, a R$ 3,7763. /

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