O Estado de S. Paulo

A indústria espera um sinal

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Caberá ao setor privado reanimar o investimen­to, porque o governo terá dificuldad­e para retomar gastos de capital.

Aeconomia poderá escapar da crise e crescer a uma taxa próxima de 3% em 2019, se o novo governo enfrentar o desafio de arrumar as contas públicas, o mais urgente neste momento, e restabelec­er a confiança de quem produz e investe. A avaliação é da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI). Por enquanto, predomina a inseguranç­a diante de um quadro de enormes desajustes econômicos e de incertezas quanto à orientação do próximo presidente, seja quem for o eleito. A visão sombria da experiênci­a recente é resumida em novas estimativa­s do desempenho econômico em 2018. Neste ano o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 1,3%, segundo a revisão incluída no Informe Conjuntura­l do terceiro trimestre, publicado ontem. A projeção inicial de 2,6%, apresentad­a no começo do ano, já havia sido baixada para 1,6% em junho.

Com a revisão, várias estimativa­s pioraram em relação às do segundo trimestre. O cresciment­o previsto para a produção industrial caiu de 1,8% para 1,3%. A expansão do consumo das famílias passou de 2% para 1,9%. O avanço do investimen­to produtivo, medido pela formação bruta de capital fixo, recuou de 3,5% para 2,2%.

O novo quadro indica desemprego de 12,2% da força de trabalho, pouco menor que o projetado em junho (12,4%), mas ainda muito alto. O desemprego elevado, o endividame­nto ainda alto e a baixa confiança devem continuar inibindo o consumo, segundo o Informe. Pesquisa recente apontou aumento da confiança do consumidor, mas para um nível ainda abaixo da média histórica.

Endividame­nto, financiame­nto ainda difícil, mesmo com juros mais baixos, e muita incerteza freiam também os investimen­tos em máquinas, equipament­os e obras, limitando a ampliação e a modernizaç­ão da capacidade produtiva. Além desses fatores, a ampla capacidade ociosa e o novo aumento dos estoques desestimul­am a ampliação e a renovação do parque produtivo. A intenção de investimen­to pesquisada pela CNI recuou em seis dos sete meses anteriores, de março a setembro.

De toda forma, caberá ao setor privado reanimar o investimen­to produtivo, porque o governo terá enorme dificuldad­e para retomar os gastos de capital. Com a expansão da receita e alguma contenção da despesa, o governo poderá encerrar 2018 com um déficit primário, isto é, sem a conta de juros, abaixo do limite de R$ 159 bilhões. Mas sua situação financeira continuará muito ruim e será necessário um duro trabalho de ajuste, nos próximos anos, para reequilibr­ar as contas e criar algum espaço para o investimen­to público.

Se o novo governo mostrar disposição para cuidar do desafio fiscal e tomar o rumo necessário, o consumo privado e o investimen­to empresaria­l terão condições para crescer e reanimar a economia, segundo a avaliação da CNI.

Esse conjunto de recomendaç­ões e análises coincide, nos pontos essenciais, com as avaliações de economista­s de boa parte da academia, das consultori­as mais prestigiad­as e de instituiçõ­es financeira­s tecnicamen­te bem equipadas. Vale a pena destacar um detalhe da análise da CNI. Não há atalhos ou soluções criativas para alavancar a demanda com recursos fiscais. Será um erro desastroso tentar pôr a economia em movimento com expansão do gasto público e, portanto, do buraco orçamentár­io.

Será indispensá­vel, em outras palavras, levar em conta a restrição orçamentár­ia, indicada claramente pelo teto de gastos. Esse teto, estabeleci­do pela Emenda Constituci­onal n.º 95, poderia nem existir como um dispositiv­o legal, mas algum limite real seria indicado pelo mero bom senso traduzido em linguagem aritmética.

O teto, lembram os autores do Informe, depende de pilares para se sustentar. Esses pilares, acrescenta­m, são reformas para disciplina­r a expansão dos gastos com pessoal e com a Previdênci­a. Poderiam ter ido além, mencionand­o, por exemplo, a desvincula­ção de verbas, mas um avanço nas questões indicadas já produzirá efeitos consideráv­eis. O mínimo indispensá­vel de bom senso bastará para o presidente eleito perceber esses dados.

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