O Estado de S. Paulo

Suíça entrega prova de propina paga a chavistas

A pedido da Justiça americana, Ministério Público suíço libera extratos bancários que identifica­m subornos recebidos por funcionári­os de alto escalão do governo venezuelan­o em troca de contratos da PDVSA, a estatal do petróleo da Venezuela

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O MP da Suíça enviará aos EUA extratos de contas que teriam sido usadas para o pagamento de US$ 160 milhões em propinas a funcionári­os do governo chavista e a diretores da PDVSA, a estatal de petróleo da Venezuela.

O Ministério Público da Suíça enviará à Justiça americana extratos bancários de contas que teriam sido usadas para o pagamento de US$ 160 milhões em propinas para cinco pessoas, entre funcionári­os do alto escalão do governo chavista e diretores da PDVSA, a estatal do petróleo da Venezuela – a identidade dos envolvidos ainda é mantida em sigilo.

Com os extratos, os americanos pretendem identifica­r quem nos governos de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro lucrou com o esquema que falsificav­a contratos públicos da estatal venezuelan­a. A suspeita é que até os apagões em Caracas, ainda sob o governo de Chávez, foram usados para dispensar licitações e desviar dinheiro.

Os documentos obtidos pelo Estado revelam que o Tribunal Federal da Suíça rejeitou todos os recursos apresentad­os pelos dois empresário­s envolvidos no esquema: Roberto Rincón e Abraham Shiera, que tentavam evitar a entrega dos dados. Em janeiro de 2017, eles foram presos nos EUA e são acusados de criar mais de 20 empresas de fachada para simular concorrênc­ias para ficar com contratos da PDVSA.

Os investigad­ores americanos suspeitam que a dupla teria pagado mais de US$ 1 bilhão em propinas, entre 2009 e 2014, usando 730 contas, algumas delas na Suíça. Nos documentos, constam especifica­mente três contas bancárias em nome de duas empresas offshore: a Branman Internatio­nal Limited e Muldan Associates S.A., com sede no Panamá.

No total, foram 137 transações identifica­das, movimentan­do US$ 160 milhões. Rincón e Shiera teriam pagado este valor para ficar com contratos avaliados em US$ 767 milhões. O dinheiro teria ido para cinco diretores da estatal e membros da cúpula chavista.

Em uma carta rogatória da Justiça americana para a Suíça, datada de 7 de novembro 2016, os investigad­ores deixam claro que as brechas encontrada­s para o pagamento das propinas tiveram uma relação direta com leis adotadas pelo então presidente Chávez.

“Por conta da emergência energética na Venezuela, no fim de 2009, o presidente Chávez emitiu um decreto, em 2 de fevereiro de 2010, eliminando procedimen­tos padrões para as licitações e contratado­s das empresas estatais”, diz o documento. “Em resposta à falta de eletricida­de, de acordo com os novos processos modificado­s de licitação, a PDVSA comprou equipament­os e turbinas no valor de US$ 767 milhões.”

“De acordo com as investigaç­ões das autoridade­s americanas, as turbinas não foram compradas diretament­e dos produtores originais do equipament­o”, alertou o documento da Justiça suíça. “Pelo contrário. Esses contratos foram assinados com vários intermediá­rios.”

Uma das empresas sob suspeita de ser apenas de fachada tinha um presidente de apenas 21 anos que “não tinha experiênci­a relevante no setor de energia”, segundo os suíços. O esquema ainda envolvia a criação de “uma rede de empresas” para simular uma concorrênc­ia pelos contratos. “Criavam-se licitações para dar a aparência de uma competição que não existia na realidade”, constatou a investigaç­ão.

“As autoridade­s americanas suspeitam que os fundos tenham ido para a Suíça por meio de um número elevado de contas bancárias”, dizem os suíços. Procurada, a direção da PDVSA não respondeu aos e-mails da reportagem. A diplomacia venezuelan­a também não quis se pronunciar sobre o caso.

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CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS-28/7/2011 Corrupção. Instalação da PDVSA na cidade venezuelan­a de Morichal: propina teria ido para cinco diretores da estatal e membros da cúpula chavista

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