O Estado de S. Paulo

Fundo eleitoral abasteceu só 44,7% dos candidatos

44,7% dos postulante­s a uma vaga no Congresso usaram recurso composto por dinheiro público; verba chegou a R$ 1,7 bilhão

- Breno Pires / BRASÍLIA

Dos quase 9 mil candidatos que disputaram uma cadeira no Congresso neste ano, menos da metade (44,7%) recebeu recursos do fundo eleitoral, composto por dinheiro público. Levantamen­to feito pelo Estado mostra que, entre os que usaram esse recurso em suas campanhas, 11,62% conseguira­m se eleger. Por outro lado, 175 dos 359 candidatos a deputados e senadores que receberam R$ 1 milhão ou mais do fundo ficaram sem a vaga.

Aprovado no ano passado pelos parlamenta­res após a proibição de doações empresaria­is, o fundo eleitoral contou com R$ 1,7 bilhão, valor repassado aos partidos.

Para quem concorreu sem o fundo eleitoral, o porcentual de sucesso foi baixo – só 2% conseguira­m se eleger. A exceção ficou com o PSL, que elegeu 37 deputados e três senadores que não usaram esses recursos. Eles foram impulsiona­dos pela campanha de Jair Bolsonaro (PSL) ao Planalto, que também não usou a verba pública até agora. Outros 16 eleitos pelo partido para o Congresso receberam o dinheiro público.

Distribuiç­ão.

As legendas priorizara­m as candidatur­as à Câmara, aplicando nelas 46% do total de R$ 1,7 bilhão (R$ 794 milhões) recebido. Esse é o destino preferenci­al porque a fatia de recursos que as siglas recebem e também o tempo de TV dependem do tamanho da bancada.

A maior parte desse investimen­to, ou R$ 443,6 milhões, foi feita em parlamenta­res que não se elegeram, como o deputado e ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PP-PR) e o deputado federal por quatro mandatos Benito Gama (PTB-BA).

Também ficaram fora da Câmara dos Deputados candidatos como Danielle Cunha (que recebeu R$ 2 milhões do fundo eleitoral) e Cristiane Brasil (R$ 1,85 milhão) – filhas, respectiva­mente, do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDBRJ), condenado e preso na Lava Jato, e do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), condenado no processo do mensalão.

Senado.

De 81 candidatos ao Senado que foram financiado­s com pelo menos R$ 1 milhão, só 26 se elegeram. Com R$ 4 milhões recebidos, Dilma Rousseff (PT), por exemplo, não conseguiu a vaga. Outros 20 senadores que tentaram a reeleição com financiame­nto público falharam, entre eles Lúcia Vânia (PSB-GO), com R$ 3,5 milhões recebidos, Romero Jucá (MDBRR), com R$ 2,25 milhões, e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), com R$ 1,57 milhão.

Só oito dos 32 senadores candidatos à reeleição tiveram êxito, o que quer dizer que 85% dos eleitos vão renovar o Senado, ainda que alguns não sejam novatos, como Jarbas Vasconcell­os (que recebeu R$ 2,1 milhões) e Jaques Wagner (R$ 1,3 milhão). Partidos aplicaram R$ 174 milhões para obter vagas no Senado, mas 70% (R$ 120 milhões) foram para candidatos que não conseguira­m a eleição.

Criterioso.

Na avaliação do cientista político Humberto Dantas, o investimen­to no Senado não foi tão certeiro porque o eleitor foi mais criterioso na avaliação dos nomes propostos, em comparação com a lista de deputados. “Talvez o dinheiro seja menos eficiente porque o eleitor enxerga de maneira mais clara onde está colocando o dinheiro dele. Diante de escândalos em Estados como Paraná e Goiás, o eleitor evitou ex-governador­es”, afirma. “Ele também demora mais nessa eleição ao Senado, tem dificuldad­e de eleger dois. Mas ele enxerga nominalmen­te de maneira clara.”

A eleição de 37 deputados do PSL sem recurso de fundo eleitoral é um dos pontos destacados. “O grande impacto dessa eleição foi uma campanha extremamen­te bem-sucedida e aparenteme­nte muito barata de um partido que se preparou e soube usar as redes sociais”, afirma o cientista político.

Depois do PSL, a Rede foi a segunda sigla que mais elegeu deputados sem o uso do fundo eleitoral. Os candidatos têm até o início de novembro para apresentar as contas finais da campanha ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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