Cães trazem mobilidade e segurança para aqueles que não enxergam
Com poucas instituições de treinamento no País, cegos ainda encontram dificuldades para ter acesso aos cães-guias
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje o Brasil possui mais de 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual. Atingindo 3,5% da população, esse total engloba 582 mil pessoas cegas e 6 milhões com baixa visão. São cidadãos que ainda encontram inúmeras dificuldades para se locomover em todas as regiões do País. O tema merece atenção, principalmente na semana em que se comemora o Dia da Pessoa com Deficiência (11 de outubro).
O encarregado de TI, André Baumgarten Santos, 52, era míope desde crianças, e aos 2 anos passou a usar os famosos “óculos fundo de garrafa”. Aos 17, durante um assalto, teve um deslocamento de retina no olho esquerdo e, pouco tempo depois, no olho direito. Mesmo passando por várias cirurgias, logo vieram o diagnóstico de degeneração miópica progressiva da retina e a degeneração macular.
“Quando comecei a perder a visão, parei de dirigir, e fiquei muito dependente da minha família. Fui então a um grupo de cegos que me indicou o uso da bengala. Com isso ganhei novamente a segurança”, diz. Mas, antes mesmo de perder a visão, André tinha o sonho de se tornar um treinador de cão-guia. “Na época descobri que não existiam cursos no Brasil. Eu não falo inglês e não tinha disponibilidade de ficar fora do País. Aí desisti”, conta.
Trabalho e companheirismo
Hoje, o Brasil ainda possui poucas instituições que oferecem esse tipo de treinamento. Como consequência, ter acesso a um cão-guia ainda é difícil e demorado para grande parte das pessoas. “O treinamento é longo e, em uma ninhada, apenas alguns cães são selecionados, pois eles não podem ser totalmente submissos, nem totalmente dominantes”, explica André, que foi até os Estados Unidos para conseguir sua golden retriever Faith, hoje com três anos.
Segundo ele, o ato de guiar é somente uma parte do trabalho que o cão realiza. Mas existe outro ponto muito importante, que é o companheirismo. “No começo, ela puxava demais, e eu a chamava de tratorzinho. E olha que eu gosto de andar rápido! Até que achamos nossa velocidade. Você vai criando o vínculo, e isso não acontece no primeiro mês.”.
E essa convivência traz cada vez mais liberdade de locomoção para André. “Quando você pega a bengala, conquista independência. Mas, quando pega o cachorro, você voa!”