O Estado de S. Paulo

Palocci entrega 18 tipos de ‘provas’ para corroborar delação

Ex-ministro apresenta à Justiça documentos como contratos fictícios e notas fiscais para reforçar colaboraçã­o premiada

- / LUIZ VASSALLO, JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO e RICARDO BRANDT

O ex-ministro Antonio Palocci entregou à Justiça 18 tipos diferentes de documentos – entre contratos fictícios, notas fiscais, e-mails e anotações – para corroborar sua delação premiada. Em petição ao desembarga­dor João Pedro Gebran Neto, o ex-ministro volta a reforçar que sua colaboraçã­o premiada, homologada pelo magistrado, tem sido efetiva e que, por isso, deve receber os benefícios de um delator pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) – Corte de apelações da Operação Lava Jato.

Palocci está preso desde setembro de 2016, alvo da Operação Omertà, desdobrame­nto da Lava Jato. O juiz Sérgio Moro condenou o ex-ministro em uma primeira ação a 12 anos e 2 meses de reclusão. Palocci pede à Corte de apelações para que sejam aplicados a ele os benefícios de uma colaboraçã­o premiada em julgamento de apelação contra a sentença de primeira instância. Entre elas, a redução da pena em dois terços. A defesa também recorre pela liberdade de Palocci.

O advogado Tracy Reinaldet, defensor do ex-ministro, ressalta que “no atual momento, diante do novo quadro processual envolvendo o acusado, resta evidenciad­o que o risco de reiteração criminosa se encontra absolutame­nte afastado”. “Não obstante, além de ser ampla e sem fronteiras, a cooperação de Antonio Palocci Filho, em especial no que tange os processos e procedimen­tos sob a jurisdição do TRF-4, já tem se revelado efetiva e útil”, sustenta.

A defesa de Palocci apresentou à Justiça “em primeiro lugar, dois contratos fictícios firmados pela empresa Projeto, cada qual com uma pessoa jurídica diferente, os quais foram utilizados para operaciona­lizar o pagamento de valores ilícitos à Antônio Palocci Filho”, assim como “as notas fiscais inerentes a cada um dos contratos acima mencionado­s, as quais demonstram a entrada dos valores ilícitos na esfera patrimonia­l do colaborado­r”.

Outros exemplos de documentos são e-mails trocados entre funcionári­os de Palocci e funcionári­os das empresas com as quais a Projeto manteve supostos contratos ilícitos e comprovant­es de doações eleitorais oficiais, realizadas por agentes privados, “as quais foram feitas tão somente como contrapart­ida à atos de ofício praticados em benefício de tais pessoas físicas e jurídicas”. Também foram apresentad­os celulares, HD’s, pen drives, extratos telefônico­s e documentos manuscrito­s.

Depoimento­s. A defesa ainda afirma que o ex-ministro prestou 141 horas de depoimento­s para colaborar com a operação. Nos autos de ação na Lava Jato em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu por supostos R$ 12,5 milhões da Odebrecht, um dos termos do acordo foi tornado público por Moro. O anexo narra um suposto loteamento de cargos na Petrobrás em troca do abastecime­nto de campanhas políticas.

O ex-ministro reafirmou que Lula “tinha conhecimen­to, desde 2007”, de supostos esquemas de corrupção na Petrobrás. Palocci revelou que 90% das Medidas Provisória­s nos governos do PT estavam relacionad­as ao pagamento de propinas e ainda disse que as campanhas que elegeram a presidente cassada Dilma Rousseff, em 2010 e em 2014, custaram R$ 1,4 bilhão, valor bem acima do declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As defesas de Lula e Dilma negam irregulari­dades.

Os demais anexos da delação de Palocci permanecem sob sigilo.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 26/9/2016 Ex-ministro. Palocci está preso desde setembro de 2016

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