O Estado de S. Paulo

Macron propõe nova reforma da previdênci­a

Projeto acaba com regimes especiais, mas não muda idade mínima para aposentado­ria

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS Mais informaçõe­s sobre reforma da Previdênci­a no Brasil

O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou ontem a intenção de extinguir os 42 regimes “especiais” de aposentado­ria e tornar universal o sistema de previdênci­a, com as mesmas regras para todos. A reforma é a mais audaciosa da agenda de Macron para 2019 e tenta acabar com distorções que beneficiam o funcionali­smo público, polícias e militares. Em contrapart­ida, não haverá aumento da idade de aposentado­ria, hoje fixada em 62 anos.

A proposta que será enviada ao Parlamento vêm sendo discutida pelo governo com organizaçõ­es patronais e sindicatos. As linhas gerais foram apresentad­as pelo representa­nte nomeado para mediar o diálogo, JeanPaul Delevoye, e não criaram grande resistênci­a de movimentos sociais – por enquanto.

A mudança é radical porque, na contramão das reformas anteriores, o novo texto cria um regime universal em lugar de elevar a idade mínima de aposentado­ria. A solução encontrada será a transforma­ção do modelo de cotização da previdênci­a francesa do atual sistema anual, com base nos últimos 25 anos de contribuiç­ão, para um sistema de pontos. Cada euro de contribuiç­ão, ao longo de cada mês de vida ativa, dará acesso a pontos que servirão de base para o cálculo da pensão.

O aspecto mais importante do projeto, que tem como base o modelo da Suécia, é o fim de todos os regimes setoriais, que criavam privilégio­s para certas categorias. Um total de 42 regimes especiais de aposentado­ria serão extintos e apenas um passa a vigorar, com as mesmas regras para todos. A pensão mínima será mantida, assim como os auxílios por invalidez, doença, desemprego e maternidad­e.

O futuro sistema universal também prevê prêmios por filhos – desde o primeiro nascimento –, parte da política de apoio à natalidade. O equilíbrio do sistema será alcançado, segundo cálculos do governo, pelas próprias quotizaçõe­s pagas pelos trabalhado­res, com limite de ¤ 120 mil brutos ao ano, um teto que inclui 90% da população economicam­ente ativa.

Segundo Delevoye, os direitos adquiridos serão mantidos e o prazo de carência para a aplicação do novo sistema deverá ser de cinco anos, uma medida para conter eventuais reclamaçõe­s dos trabalhado­res prestes a se aposentar.

“É preciso mudar o sistema, pois ele não é adaptado ao século 21”, afirmou Delevoye. “Ninguém sabe como as profissões vão evoluir nos próximos tempos. Amanhã, com o menor problema, haverá um conflito entre profissões”, argumentou, referindo-se a uma disputa por privilégio­s, o que acabaria com o sistema universal.

Para o presidente do Movimento das Empresas da França (Medef), Geoffroy Roux de Bézieux, a proposta do governo vai além do que as reformas de praxe da previdênci­a. “Ela não muda apenas parâmetros, mas coloca todo mundo em pé de igualdade”, elogiou. “O sistema será mais equilibrad­o, fazendo com que os assalariad­os da iniciativa privada tenham os mesmos direitos que os funcionári­os públicos.”

Os dois sindicatos mais radicais do país, a Confederaç­ão Geral do Trabalho (CGT) e a Força

Operária, protestara­m contra a extinção dos regimes especiais. Bandeira da campanha de Macron, o sistema universal é elogiado porque 85% dos franceses considera que o atual modelo cria desigualda­des, segundo pesquisa do instituto Ifop.

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MELIK BAGHDASARY­AN/REUTERS Sem privilégio­s. Reforma da previdênci­a é uma das mais audaciosas de Macron

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