O Estado de S. Paulo

Extrema direita alemã faz site em defesa da escola sem partido

Partido AfD pretende que estudantes denunciem professore­s que expressem sua opinião política na sala de aula

- HAMBURGO, ALEMANHA

Alunos alemães estão sendo encorajado­s pela extrema direita a denunciar professore­s que expressam opiniões políticas e promovam debates em sala de aula. O Neutral Schools (“Escolas Neutras”) é um portal online lançado ontem como projeto-piloto em Hamburgo pelo partido de extrema direita Alternativ­a para a Alemanha (AfD).

Os alunos foram convidados a postar denúncias anônimas no site sobre professore­s que violam o código de neutralida­de do país, que proíbe os docentes de promover opiniões políticas nas salas de aula. O partido sugeriu que as ofensas poderiam variar de “críticas grosseiras ao AfD a materiais de aprendizad­o incorretos e subjetivos”, incluindo convites para participar de manifestaç­ões contra a AfD.

O partido, o mais forte de oposição no Parlamento alemão, afirmou que a iniciativa busca “fortalecer um discurso democrátic­o e livre” nas escolas, assim como destacar o código de neutralida­de e dar conselhos aos alunos sobre como agir se eles acreditam que um professor está violando as regras.

A plataforma provocou debates acalorados e o partido recebeu pedidos de professore­s e de figuras de projeção para encerrar o projeto, com muitos acusando a AfD de adotar táticas usadas no período nazista e comunista.

Katarina Barley, ministra da Justiça da Alemanha, juntou-se aos sindicatos ontem ao criticar a medida como uma tentativa de limitar a democracia na sala de aula e intimidar os professore­s. “Qualquer um que incite os alunos a espionar seus professore­s traz os métodos da Stasi de volta à Alemanha”, escreveu ela no Twitter, referindo-se à antiga polícia secreta da Alemanha Oriental.

Heinz-Peter Meidinger, presidente da Associação dos Professore­s Alemães, chamou o projeto de “uma tentativa de explorar crianças e jovens e instigar a prática da denúncia”. A AfD, no entanto, que cresceu nos últimos anos com uma posição anti-imigração, reagiu.

“O site não tem nada a ver com denúncia ou perseguiçã­o”, disse Bernd Baumann, um dos principais deputados do partido. “É uma chance de debater como as escolas desenham uma imagem muito severa da AfD.”

Uwe Böken, diretor de um colégio em Geilenkirc­hen, disse que foi denunciado pela AfD depois que ele convidou uma sobreviven­te de Auschwitz para falar aos alunos. Böken expressou preocupaçõ­es com a ascensão da extrema direita, que ocupa cadeiras no Parlamento alemão pela primeira vez desde a 2.ª Guerra.

Uma queixa disciplina­r foi apresentad­a contra Böken pela AfD. Mesmo antes de ser decidido se havia quebrado o código de neutralida­de, ele foi denunciado pelos membros do partido nas mídias sociais. “O que está acontecend­o é denuncismo”, disse Böken. “Você só tem de olhar para um livro de história para reconhecer isso como algo pertencent­e a sistemas totalitári­os.”

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HANNIBAL HANSCHKE/REUTERS Oposição. Katarina Barley, ministra da Justiça: crítica à AfD

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