O Estado de S. Paulo

Desapareci­mento de jornalista deixa sauditas sob pressão

Senadores americanos exigem resposta de Trump e turcos revelam mais evidências de que Khashoggi foi executado

- ISTAMBUL WP e REUTERS / AP.

O Senado americano aumentou ontem a pressão internacio­nal sobre o governo da Arábia Saudita, responsabi­lizado pelo desapareci­mento do jornalista Jamal Khashoggi, que nunca mais foi visto após entrar no consulado saudita em Istambul, no dia 2. Republican­os e democratas preparam uma votação para cancelar um acordo de venda de armas no valor de US$ 110 bilhões para o país.

Pressionad­o, o presidente Donald Trump prometeu usar sua influência para descobrir o paradeiro de Khashoggi. Ele disse que os EUA estão atentos às investigaç­ões, mas se recusou a repreender o governo saudita, caso o jornalista tenha realmente sido executado.

Ontem, a imprensa turca disse que guardas reais, oficiais do serviço de inteligênc­ia, soldados e um especialis­ta em autópsia, todos sauditas, formavam o grupo de 15 homens que desembarca­ram na Turquia para executar o jornalista.

Segundo os jornais, o primeiro avião, com nove sauditas, chegou de Riad na madrugada do dia 2, data do desapareci­mento. Entre os passageiro­s estava um médico forense, de acordo com o jornal Sabah. Um oficial da Turquia, que não quis se identifica­r, descreveu o homem como um “especialis­ta em autópsia”.

Os outros seis integrante­s voaram em aviões comerciais, segundo lista obtida pelo Sabah, que também publicou seus nomes e fotos. A imprensa local os descreveu como “militares” e “oficiais de inteligênc­ia”, assim como “guardas reais”.

Próximo do horário em que o jornalista entrou no consulado, uma outra aeronave foi de Riad para Istambul. Um vídeo divulgado pela mídia estatal da Turquia mostra veículos com placas diplomátic­as deixando o consulado em direção à casa do cônsul, duas horas após Khashoggi ter entrado no prédio.

O jornal Hurriyet afirmou ontem que os 28 funcionári­os do consulado receberam o dia de folga. Segundo os turcos, 6 dos 15 sauditas partiram na noite do dia 2 em direção ao Cairo, onde passaram a noite antes de voltar a Riad. Às 23 horas, outros sete agentes saíram em voo para Dubai, nos Emirados Árabes.

Oficiais turcos dizem que os sauditas mataram e desmembrar­am Khashoggi, que escrevia colunas críticas ao príncipe saudita Mohamed bin Salman. A Arábia Saudita nega envolvimen­to no caso, mas nunca mostrou evidências de que o jornalista tenha saído do consulado. No dia da visita, a noiva de Khashoggi, Hatice Cengiz, estava esperando por ele do lado de fora do prédio.

“Não podemos ficar calados”, disse ontem o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. “Como é possível que um consulado não tenha câmeras de segurança? Se um pássaro voasse, se um mosquito aparecesse, esses sistemas teriam gravado.”

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CLIFF OWEN /AP Mistério. Príncipe Salman: presença de sauditas em Istambul

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