O Estado de S. Paulo

Guedes sugere criar ‘superconse­lho’

Ventilada a aliados de Bolsonaro, ideia de conselho econômico alimentou conversas de que ele desistiria de ser ministro; Guedes nega recuo

- Andreza Matais Renata Agostini Naira Trindade

Coordenado­r do programa econômico de Jair Bolsonaro (PSL) e fiador de seu programa liberal, o economista Paulo Guedes ventilou para colaborado­res da campanha e empresário­s entusiasta­s da candidatur­a do capitão reformado a ideia de criar um conselho econômico aos moldes do que existe nos Estados Unidos. No governo americano, o Conselho Nacional Econômico (The National Economic Council, em inglês) tem como função definir a política econômica e assessorar o presidente em temas sobre economia.

Guedes foi anunciado novamente ontem por Bolsonaro como seu nome para a Fazenda. A proposta do economista, no entanto, tem causado confusão nos bastidores. Alguns aliados interpreta­ram a menção à formação de um conselho desse tipo como indicação de que Guedes acabaria declinando do posto de chefe da Economia de Bolsonaro para assumir o papel de “superasses­sor”, dando as diretrizes liberais do novo governo para um gestor executar. Oficialmen­te, ele nega a intenção.

Duas fontes da campanha confirmam que a ideia foi exposta por Guedes em reuniões, mas asseguram que ele mantém intenção de se tornar o ministro da Economia de um eventual governo Bolsonaro. Questionad­o pela reportagem, Guedes afirmou que falar sobre esse tema é iniciativa de “quem quer tomar o seu lugar”.

Para Bolsonaro e seu núcleo duro, a figura de Guedes é crucial para dar credibilid­ade aos intentos liberais do presidenci­ável. Um aliado de Bolsonaro, que esteve em reuniões com Guedes, diz ter conhecimen­to da ideia, mas que ela não avançou para uma proposta formal.

Outra fonte da equipe diz que a formação de um conselho chegou a ser mencionada em reunião com integrante­s da equipe econômica de Michel Temer, mas no contexto de um elogio ao time do governo. A intenção de Guedes, explicou essa fonte que pediu para não ser identifica­da, era sinalizar que nomes do atual Ministério da Fazenda teriam espaço na equipe do Bolsonaro caso assim quisessem.

Guedes gosta do trabalho do ministro Eduardo Guardia, do secretário do Tesouro, Mansueto de Almeida, e da secretária executiva do Tesouro, Ana Paula Vescovi. Por isso, diz o aliado, ele brincou em uma reunião que, se esse grupo permaneces­se, “ele nem precisaria assumir” e poderia ficar apenas como conselheir­o econômico de Bolsonaro.

As conversas sobre a formação desse conselho econômico, contudo, reverberar­am rapidament­e entre apoiadores da campanha no mercado financeiro e no setor empresaria­l, que iniciaram de forma informal debates sobre nomes que poderiam ocupar o papel de “gestor da Fazenda” e seguir as determinaç­ões de Guedes.

A interlocut­ores, o economista tem reforçado nos últimos dias que está decidido a tocar a equipe econômica de Bolsonaro caso ele seja eleito. Guedes, que é sócio da Bozano Investimen­tos, dedica-se há meses a moldar o que seria o plano liberal de um eventual governo do PSL. Mas, em entrevista­s, vinha resistindo em confirmar que estaria de fato na Esplanada dos Ministério­s de Bolsonaro, alimentand­o a desconfian­ça de agentes de mercado.

À revista Piauí de setembro, numa de suas últimas entrevista­s antes do primeiro turno, Guedes afirmou: “Se não der para fazer o negócio bem feito, que valha a pena, para quê eu vou?”. Pressionad­o sobre se desistiria, disse à publicação: “Esse prazer eu não dou. Só depois que ele for eleito”. O movimento de Bolsonaro de reafirmar o nome de Guedes ao público ontem foi na direção de tentar dirimir essas dúvidas entre investidor­es e de eleitores que buscam um projeto liberal.

Inspiração. Criado pelo ex-presidente democrata Bill Clinton, o Conselho Nacional Econômico foi mantido ao longo dos anos e é subordinad­o à Casa Branca. Ele tem como função definir os rumos da política econômica e garantir que os órgãos da administra­ção estejam implementa­ndo-a corretamen­te.

O diretor do conselho não precisa ser confirmado pelo Senado americano. Ele é apenas indicado pelo presidente. Já o secretário do Tesouro, cargo que seria correspond­ente ao do ministro da Fazenda no Brasil, precisa passar pelo crivos dos congressis­tas americanos.

No início do governo Donald Trump, a chegada do ex-presidente do Goldman Sachs Gary Cohn para o conselho ajudou a dar credibilid­ade à administra­ção do republican­o. O executivo acabou deixando o posto no início deste ano após Trump elevar tarifas de importação, intensific­ando sua guerra comercial e dando feição protecioni­sta à administra­ção republican­a.

 ?? SERGIO MORAES/REUTERS-6/8/2018 ?? Equipe. Guedes teria indicado, segundo fontes, gostar do trabalho de Guardia, Mansueto de Almeida e Ana Paula Vescosi
SERGIO MORAES/REUTERS-6/8/2018 Equipe. Guedes teria indicado, segundo fontes, gostar do trabalho de Guardia, Mansueto de Almeida e Ana Paula Vescosi

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil