O Estado de S. Paulo

Funcef diz que perdeu com fundo de Guedes

Fundo vê irregulari­dade em investimen­to de R$ 112,5 milhões feito por empresa ligada ao economista

- Fabio Serapião / BRASÍLIA

A Funcef, fundo de pensão dos funcionári­os da Caixa, aponta a suspeita de irregulari­dades em um investimen­to de R$ 112,5 milhões feitos pelo FIP Brasil Governança na empresa Enesa Participaç­ões. Gerido pela BR Educaciona­l, empresa ligada a Paulo Guedes, conselheir­o econômico de Jair Bolsonaro (PSL) e indicado para ser ministro da Economia, o FIP causou perda total aos seus cotistas, entre eles a Funcef, que detinha 20% de suas ações.

Embora a Funcef cite no relatório, obtido pelo Estado, o prejuízo causado pelo investimen­to na Enesa, o balanço global do FIP Governança é positivo. Além da Enesa, o FIP aportou valores em outras três empresas. Desses aportes, dois já foram encerrados e resultaram em lucro para os fundos de pensão. Um terceiro ainda não foi encerrado mas, atualmente, tem retorno positivo. Como gestora do FIP, a BR Educaciona­l indica os investimen­tos que passam pelo crivo de um comitê formado por integrante­s dos próprios fundos.

Entre os indícios de irregulari­dades apontados pelo fundo de pensão no investimen­to na Enesa, estão o pagamento de dividendos incompatív­el com seus lucros, uso de empresas de fachada para justificar o enquadrame­nto da empresa como uma holding e pagamento de ágio acima do normal. A Funcef aponta que a Enesa Participaç­ões pode ter sido criada apenas para receber os aportes do FIP administra­do pela empresa de Guedes e financiado com dinheiro dos fundos de pensão.

O documento foi encaminhad­o ao Ministério Público Federal (MPF) e será utilizado na investigaç­ão criminal aberta para apurar a atuação de Guedes no aporte de cerca de R$ 1 bilhão de fundos de pensão ligados a empresas públicas feitos em FIPs sob gestão de sua empresa. “As perdas significat­ivas para os cotistas, entre os quais a Funcef, indicam a necessidad­e de instauraçã­o de processo administra­tivo, por meio de Comissão Técnica de Apuração (CTA), para avaliação das irregulari­dades apontadas”, diz a Funcef.

Segundo o fundo de pensão, a Enesa Engenharia S.A existia desde 1977, mas a holding Enesa Participaç­ões, que recebeu o aporte do FIP, foi criada “quando já estava em andamento o processo de constituiç­ão” do FIP Brasil Governança na Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM). Para justificar o enquadrame­nto em “participaç­ões”, a Enesa passou a figurar como sócia de sete empresas. Segundo a Funcef, cinco dessas empresas são suspeitas de serem fantasmas e existirem apenas no papel.

Sobre a distribuiç­ão de dividendos, a Funcef afirma que, em 2010, logo após receber o aporte de R$ 112 milhões do FIP Brasil Governança, a Enesa Participaç­ões realizou distribuiç­ões de dividendos no valor de R$ 77, 3 milhões. O indício de irregulari­dades estaria no fato de que o lucro da empresa, relativo ao ano anterior, foi de R$ 44 milhões, portanto, diz o relatório do fundo de pensão, incompatív­el com a distribuiç­ão de dividendos.

Respostas. A Funcef informou que não se manifestar­ia. O Estado entrou em contato por telefone com a Enesa, uma secretária atendeu e solicitou o encaminham­ento da demanda por email. Até o fechamento desta edição, a empresa não havia respondido

aos questionam­entos.

Em nota divulgada pelos advogados Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo, o economista Paulo Guedes afirmou que o relatório da Funcef foi “elaborado de forma parcial e inverídica, há uma semana, cujo o único objetivo é influencia­r o pleito eleitoral.” Segundo a nota, Guedes jamais teve poder de deliberaçã­o sobre o destino dos investimen­tos, “os quais foram todos aprovados pelo Comitê de Investimen­tos, formado, dentre outros, por membros indicados pelos fundos de pensão.”

“O que espanta é o fato de o relatório focar em apenas um, de quatro investimen­tos do mesmo fundo, até aqui realizados com lucro consideráv­el aos investidor­es e ainda com a perspectiv­a de lucro de mais de 50% do valor investido”, diz a nota.

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DPF /DIVULGAÇÃO - 5/9/2016 Apuração. Relatório feito pela Funcef foi enviado ao MPF

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