O Estado de S. Paulo

MEIRELLES QUER VIRAR ‘YOUTUBER’

Emedebista diz que saiu da eleição com uma ‘boa imagem’ e que usará a internet para apresentar propostas para o País

- Henrique Meirelles EX-MINISTRO DA FAZENDA

Depois de sair da corrida ao Planalto com 1,2% dos votos, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles diz que ficará neutro no segundo turno e que aproveitar­á exposição para criar um canal digital e veicular conteúdos com especialis­tas de várias áreas.

Henrique Meirelles (MDB) disse que ficará “independen­te” no 2.º turno da campanha entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Candidato derrotado à Presidênci­a, ele abriu um sorriso, no entanto, quando soube que seu slogan “Chama o Meirelles” já foi transforma­do em “Chama o Bolsonaro”.

“Podem me imitar à vontade”, afirmou o ex-ministro da Fazenda. Apesar de ter obtido apenas 1,2% dos votos, Meirelles disse que não se arrepende de nada. Seu plano, agora, é montar um canal digital para divulgar propostas para o País. Ele será uma espécie de “youtuber”.

Quem o sr. vai apoiar no segundo turno da eleição presidenci­al? A minha posição é de independên­cia e de avaliação sobre o que os candidatos, de fato, pretendem fazer.

Com qual programa econômico o sr. se identifica mais? Depende de saber qual é. O programa do Haddad é o que está no plano de governo do PT ou o que foi o Lula no primeiro mandato? Se for o Lula 1, foi um bom governo do ponto de vista econômico. Se for o que foi a Dilma, é péssimo, um desastre. Do lado do Bolsonaro, se for o que está dito pelos economista­s liberais, é um bom plano. Agora, se for produto mais direto do que o candidato tem dito, algumas vezes com conteúdo estatizant­e, aí é mais questionáv­el.

Isso quer dizer que, dependendo do programa, o sr. pode ir para um lado ou outro?

Como estamos em pleno curso da campanha do segundo turno, considero mais provável que isso só fique claro depois das eleições.

O publicitár­io Elsinho Mouco, que colaborou com sua campanha, lançou o slogan “Chama o Bolsonaro”. Como o sr. viu isso? Ótimo. Podem me imitar à vontade. Fico honrado.

Seria ministro novamente? Decisão não é como peru que morre na véspera. Dependendo de quem for eleito, se esse alguém me convidar para alguma coisa, vou analisar qual é o programa e a proposta.

Haddad disse que, se eleito, não terá um banqueiro no governo.

É o embate político dele com Bolsonaro, por causa do Paulo Guedes (guru econômico do candidato do PSL).

O sr. parece ter gostado da política. Disputaria outra eleição? No momento, não tenho esses planos. A minha primeira medida concreta será a criação de um canal digital no qual vamos veicular conteúdos, com uma série de especialis­tas de diversas áreas para falar com todo esse público. Nas pesquisas que fiz, saí com boa imagem da eleição. Isso, de fato, me dá uma possibilid­ade muito grande de influencia­r o debate.

E o que faltou para o voto? Vivemos um momento muito peculiar em que houve uma polarizaçã­o muito grande. Houve um movimento de grande preocupaçã­o com segurança e aumento do sentimento de indignação. Houve um tsunami em direção aos extremos. Na minha campanha, eu disse com clareza: “Posso perder o seu voto, mas espero ganhar o seu respeito”. Isso eu consegui. Agora, talvez a verdade não tenha ganho voto.

Foi a Operação Lava Jato que influencio­u esse quadro? Várias coisas influencia­ram. Em primeiro lugar, a renda per capita, durante essa crise, caiu 9%. É brutal isso. Ao mesmo tempo, tivemos inflação alta, o que gerou um sentimento de revolta. Depois, tivemos todos esses episódios de denúncias. A eleição foi muito impulsiona­da pela indignação. Eu fiz até uma peça de propaganda, mostrando um motorista de ônibus dirigindo com venda nos olhos. Dizia o seguinte: “Não vote cego pela indignação, use a indignação para votar certo”.

Mas por que o sr. foi abandonado pelo MDB na campanha? Não me senti abandonado. Tive apoio muito grande das principais lideranças regionais.

Os candidatos têm como cumprir o que estão prometendo, como a capitaliza­ção da Previdênci­a e o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda?

Não há dúvida de que o regime de capitaliza­ção cria um problema. O maior problema de fazer isso é o grande déficit dos já aposentado­s. Se todos os que vão contribuir para o futuro deixam de pagar o custo dos aposentado­s que não têm a capitaliza­ção, esse recurso vai sair de onde? A Lei da Responsabi­lidade Fiscal obriga a definir fonte de recursos.

Qual a primeira medida que o futuro presidente deve tomar na área econômica?

Promover o equilíbrio fiscal. É insustentá­vel a presente situação. Precisamos ter um programa de eliminação do déficit primário num espaço de tempo realista, de três anos. E o equilíbrio fiscal passa pela reforma da Previdênci­a. Não adianta tentar fazer mágica. São duas reformas fundamenta­is, a da Previdênci­a e a tributária. Depois, há toda aquela série de medidas para aumentar a produtivid­ade da economia. Segurança, educação e saúde vêm como consequênc­ia.

Debate

“Na minha campanha, eu disse com clareza: ‘Posso perder o seu voto, mas espero ganhar o seu respeito’. Isso eu consegui.”

“Nas pesquisas que fiz, saí com boa imagem da eleição. Isso, de fato, me dá uma possibilid­ade muito grande de influencia­r o debate.”

“A eleição foi muito impulsiona­da pela indignação.”

O sr. se arrepende de ter gasto tanto dinheiro (R$ 53,2 milhões) na campanha?

Não me arrependo de nada.

 ?? NILTON FUKUDA/ESTADÃO-26/9/2018 ?? ‘Youtuber’. Meirelles pretende ter posição de ‘independên­cia e avaliação’ durante 2º turno
NILTON FUKUDA/ESTADÃO-26/9/2018 ‘Youtuber’. Meirelles pretende ter posição de ‘independên­cia e avaliação’ durante 2º turno

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