O Estado de S. Paulo

Turquia assegura que jornalista saudita foi morto

Acusação. Segundo o ‘Washington Post’, governo turco tem áudios e vídeos provando que Jamal Khashoggi foi torturado e morto em sede diplomátic­a saudita em Istambul, mas não os apresenta para não expor seu esquema de espionagem em missões estrangeir­as

- ANCARA / W.

O governo turco informou aos EUA ter gravações de áudios e vídeos do jornalista Jamal Khashoggi sendo torturado e morto no consulado saudita em Istambul neste mês. A informação é do jornal Washington Post, para o qual Khashoggi escrevia.

O governo turco tem provas sobre a tortura e morte do jornalista saudita desapareci­do Jamal Khashoggi, mas revelálas exporia sua prática de espionagem nas representa­ções diplomátic­as estrangeir­as em seu território, segundo noticiaram veículos de imprensa nos EUA e no Reino Unido.

Segundo o jornal Washington Post, para o qual Khashoggi escrevia, o governo turco informou aos EUA ter em seu poder gravações de áudios e vídeos do jornalista sendo morto no consulado saudita em Istambul este mês, de acordo com fontes de Washington e Ancara. A rede britânica BBC também publicou que fontes oficiais turcas assegurara­m ter esse material, o que corrobora a tese de assassinat­o dentro do consulado.

Segundo o jornal, os registros seriam do momento em que ele foi “interrogad­o, torturado e, depois, assassinad­o” no consulado. Em seguida, seu corpo teria sido desmembrad­o. O Post sustenta que as gravações mostram o momento em que uma equipe de segurança saudita prende Khashoggi após ele entrar no consulado no dia 2 para obter documentos oficiais de divórcio e

preparar seu casamento com a turca Hatice Cengiz. Ela esperou horas fora do consulado pela saída do noivo e garante que ele não deixou o prédio.

As gravações explicaria­m por que autoridade­s turcas acusaram a família real saudita tão rapidament­e de ter matado Khashoggi. A fonte do governo turco citada pelo Post afirma que os áudios, em particular, são as evidências mais convincent­es e “horríveis” de que a equipe saudita

é responsáve­l pela morte de Khashoggi. “Pode-se ouvir a voz dele e de outros homens falando em árabe. Pode-se ouvir como ele foi interrogad­o, torturado e então morto”, afirmou a fonte citada pelo jornal, que falou em condição de anonimato. Uma segunda fonte citada pelo Post afirma que é possível ouvir Khashoggi ser espancado.

O jornalista tem laços antigos com a família real saudita, mas vinha criticando o atual governo e o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman. O governo saudita nega envolvimen­to no desapareci­mento de Khashoggi e alega que ele deixou o consulado logo após entrar, sem apresentar provas.

A Turquia informou na quinta-feira ter aceitado o pedido da Arábia Saudita para formar uma comissão conjunta para investigar o que ocorreu com Khashoggi. Uma delegação saudita que integrará essa comissão já chegou à Turquia.

Pressão. Enquanto isso, o governo de Riad vê crescer a pressão para que esclareça o caso, com líderes do mundo dos negócios rompendo suas conexões com a Arábia Saudita. O bilionário britânico Richard Branson anunciou que suspendeu negócios com o reino no Golfo e o CEO do Uber, Dara Khosrowsha­hi, informou que não comparecer­á a uma conferênci­a sobre investimen­tos que o país terá este mês.

O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, informou que também não comparecer­á à conferênci­a e veículos de imprensa, como o Financial Times, Bloomberg, CNN e CNBC, não farão mais sua cobertura. O presidente Donald Trump disse que pretende, “em algum momento”, falar com o rei saudita sobre o jornalista desapareci­do

 ?? MURAD SEZER/REUTERS8/10/2018 ?? Pressão. Ativistas dos direitos humanos e amigos de Khashoggi protestam diante do consulado saudita em Istambul, onde ele teria sido morto
MURAD SEZER/REUTERS8/10/2018 Pressão. Ativistas dos direitos humanos e amigos de Khashoggi protestam diante do consulado saudita em Istambul, onde ele teria sido morto

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