O Estado de S. Paulo

Candidato do PSL prevê mais verba para ciência

Projeto não deixa claro, no entanto, como elevar esses recursos no momento em que meta é zerar o rombo das contas públicas

- Renata Agostini Herton Escobar

Uma nova proposta de incentivo à ciência, tecnologia e inovação feita por assessores de Jair Bolsonaro (PSL) prevê medidas para alavancar investimen­tos privados e “aumento real do orçamento” federal para o setor. O plano sugere ainda uma guinada no direcionam­ento dos recursos públicos, orientando desembolso­s para pesquisas aplicadas em projetos considerad­os prioritári­os.

A meta geral é elevar o investimen­to feito por governo e iniciativa privada de 1,3% para 2,5% do PIB (produto interno bruto) em quatro anos. O documento que resume a proposta de Bolsonaro para o setor, ao qual o Estado teve acesso, afirma que é necessário dar “prioridade orçamentár­ia” à área em todos os níveis do governo, até mesmo, se necessário, “com prejuízo dos demais campos do poder”, à exceção da educação, saúde e saneamento básico.

“O Brasil precisa colocar ciência, tecnologia e inovação no centro da sua estratégia nacional de desenvolvi­mento, como fazem outros países”, diz o economista Marcos Cintra, presidente da Financiado­ra de Inovação e Pesquisa (Finep), agência de fomento vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es (MCTIC). “Aqui ele é um setor como outro qualquer. Quando precisa cortar, passa a régua e corta tudo igual. Isso não pode acontecer. Passamos por ajuste fiscal, mas tem de priorizar.”

Cintra é um dos principais colaborado­res do economista Paulo Guedes, que coordena boa parte do plano de governo de Bolsonaro. O documento com as propostas para o setor congrega os debates conduzidos por Cintra e pela equipe supervisio­nada em Brasília pelo general Aléssio Ribeiro Souto.

O texto surge como um complement­o ao plano de governo protocolad­o pela campanha de Bolsonaro na Justiça Eleitoral, que fala muito pouco sobre ciência e tecnologia.

O novo plano traz uma série de propostas para alavancar o setor, mas não detalha como a previsão de aumento dos dispêndios ficará em linha com o compromiss­o que Guedes estabelece­u no programa de Bolsonaro de zerar o rombo nas contas públicas já em 2019.

O texto destaca a necessidad­e de reverter o contingenc­iamento de fundos setoriais vinculados à área, como o Fundo Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o (FNDCT), que são alimentado­s por contribuiç­ões de empresas, mas que, na prática, destinam apenas uma pequena fração de fato para pesquisas – a maior parte costuma ser contingenc­iada e usada para ajudar a fechar as contas do governo.

A proposta é, de um lado, vetar o bloqueio desses recursos, estimados em cerca de R$ 5 bilhões, e, de outro, colocar em marcha medidas para estimular o investimen­to das empresas em pesquisa e desenvolvi­mento, hoje em torno de 0,6% do PIB, abaixo do visto em países desenvolvi­dos.

Nesse sentido, uma das ações previstas é reduzir a ênfase dada hoje à oferta de crédito, estimuland­o em seu lugar a concessão

“O governo tem de orientar para onde vai a pesquisa, chamar as empresas, estimulá-las a atender a demanda indicada.” Marcos Cintra

PRESIDENTE DA FINEP E COLABORADO­R

DO PLANO DE GOVERNO DE BOLSONARO

de subvenção. Por esse mecanismo, previsto em lei desde 2004, o governo pode aplicar recursos públicos “não reembolsáv­eis” diretament­e em empresas que desenvolva­m projetos

estratégic­os e dividir, assim, os riscos da empreitada com o setor privado.

“O governo tem de orientar para onde vai a pesquisa, chamar as empresas, estimulá-las a

atender a demanda indicada e dar subvenção em vez de crédito. Com isso, vamos ampliar muito o interesse das empresas privadas em entrarem no setor”, diz Cintra.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO-6/3/2018 Saída. País precisa colocar a ciência no centro da estratégia de desenvolvi­mento, diz Cintra

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