O Estado de S. Paulo

Planos de candidatos para Segurança são vagos

Segurança Pública. Especialis­tas indagam sobre capacidade de Haddad (PT) de colocar em prática suas propostas, enquanto apontam excesso de ideologia nas diretrizes de Bolsonaro (PSL); investimen­to em inteligênc­ia e integração das polícias são consenso

- Marcelo Godoy

Os programas de Segurança Pública dos presidenci­áveis incluem medidas rejeitadas por especialis­tas e cuja eficácia é altamente questionad­a. Eles também indagam sobre a capacidade de o petista Fernando Haddad colocá-las em prática, enquanto apontam excesso de ideologia no documento que Jair Bolsonaro (PSL) apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Parece tudo feito para agradar ao anseio do eleitor por segurança, mas com poucos detalhes. O que significa a frase ‘investir em inteligênc­ia’? Sem explicar ‘como’, tudo vira uma fórmula mágica”, afirmou o coronel José Vicente da Silva Filho, que assessorou o candidato Geraldo Alckmin (PSDB).

O programa de Segurança Pública de Bolsonaro reúne propostas como endurecime­nto de penas, aumento do encarceram­ento e presença das Forças Armadas no combate à criminalid­ade. Também facilita o acesso às armas de fogo e enquadra nesse capítulo a política de direitos humanos. Pretende ainda criminaliz­ar ações de movimentos sociais, tornando crime de terrorismo invasões de terra praticadas pelo Movimento dos Trabalhado­res Sem Terra. E defende a redução da maioridade penal, que hoje é de 18 anos.

No começo do ano, o pesquisado­r Tulio Kahn ouviu uma centena de especialis­tas em Segurança Pública – policiais, cientistas sociais, criminalis­tas etc – e nenhuma dessas propostas obteve consenso. “É a pauta da bancada da bala. Muita ideologia e pouca política com eficiência comprovada. Esse grupo tem uma pauta com muita demanda corporativ­a, de interesse mais das polícias do que da população em geral”, disse.

A redução da maioridade penal foi rejeitada por 65,7% dos entrevista­dos e apoiada por 33,85%; a flexibiliz­ação do Estatuto do Desarmamen­to, rejeitada por 70% deles; e o uso do Exército como polícia teve a rejeição de 71%. “Há projetos como o que prevê punir de forma mais grave os adolescent­es que cometem crimes hediondos, o que é correto. Rebaixar pura e simplesmen­te a idade penal é insano”, diz José Vicente.

O Fórum Brasileiro de Segurança, o Instituto Sou da Paz e o Instituto Igarapé também apresentar­am uma pauta conjunta para a área que previa exatamente o contrário: regular e controlar a venda e o uso de armas de fogo, a adoção de penas alternativ­as para romper com o encarceram­ento em massa e fortalecer o Ministério da Segurança Pública, em vez de ampliar o uso das Forças Armadas no combate ao crime.

Há duas notáveis exceções no programa de Bolsonaro: investir em inteligênc­ia policial e integrar as polícias, medidas defendidas pela quase unanimidad­e dos especialis­tas da área. Elas são tão consensuai­s que, na pesquisa de Kahn, receberam o apoio de 97,3% (integração) e de 69% (criação de um banco de dados unificado para a inteligênc­ia). O investimen­to em inteligênc­ia também consta no plano de governo de Haddad.

Desmilitar­ização. No caso do programa petista, a proposta mais polêmica é discutir a desmilitar­ização da polícia. Os especialis­tas não chegaram a um consenso sobre a medida e preferem defender a integração. A criação de um ciclo completo – permitir que a polícia trabalhe desde a prevenção até a investigaç­ão do crime – tem apoio entre os especialis­tas (92%) e entre as Polícias Militares, mas enfrenta a resistênci­a de delegados de polícia, que defendem a manutenção do inquérito policial como atividade exclusiva da chamada polícia judiciária.

Haddad também pretende mudar o artigo da Constituiç­ão que regula a Segurança Pública, para rediscutir as atribuiçõe­s das polícias, da União, dos Estados e Municípios. O uso do instrument­o (proposta de emenda constituci­onal) não é consenso entre os analistas, que sabem da dificuldad­e da aprovação de PECs no Congresso.

Já outras medidas propostas por Haddad têm o apoio de especialis­tas, como o controle de armas de fogo e concentrar o uso das polícias no ataque a crimes violentos, além do combate à lavagem de dinheiro do crime organizado. “Mas o PT esteve 13 anos no poder e não as pôs em prática”, diz Kahn.

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FONTE: PROJETO DE LEI ORÇAMENTÁR­IA ANUAL 2019 INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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