Interesse comercial supera apego aos direitos humanos
Odesaparecimento de Jamal Khashoggi teve grande repercussão na capital dos EUA, onde Riad há muito procura ampliar sua influência por meio de lobistas, burocratas e políticos. O caso levantou uma ira coletiva contra a Arábia Saudita que anos de bombardeio saudita no Iêmen não haviam conseguido. “A Arábia Saudita é uma pequena nação que não consegue se defender sem o apoio dos EUA. Logo, nenhum líder saudita teria feito uma provocação tão descarada se não acreditasse que Washington, antes o bastião da ordem liberal do mundo, não faria nada a respeito”, escreveu Robert Kagan.
De fato, Trump pouco fez para sugerir que o mau comportamento saudita poderia ter afastado seu estreito relacionamento com o reino. Em várias entrevistas desde o desaparecimento de Khashoggi, ele salientou a importância de se preservar os US$ 100 bilhões em vendas de armas americanas para os sauditas. “Penso que (a perda disso) nos afetaria muito”, disse Trump à Fox News. “Temos empregos (em jogo) e (devemos) parte deles a nossos sistemas de defesa que todos querem. Francamente, seria um remédio muito difícil de engolir para nosso país.”
Trump referiu-se ao caso como algo ocorrido na Turquia envolvendo um cidadão saudita – nada, portanto, que fosse assunto de Washington. Pouco importava que Khashoggi fosse um residente nos EUA escrevendo para um jornal americano. “A posição de Trump frente déspotas e governos autoritários tem sido geralmente a de não julgar sua conduta e sugerir que isso apenas dificulta acordos”, escreveu o analista Aaron Blake. “É o que acontece em relação à Arábia Saudita, que Trump e sua Casa Branca vêm tratando amistosamente como parceira de negócios e aliada contra o Irã.”
A Arábia Saudita foi o primeiro país que Trump visitou como presidente. Ele alinhou a política dos EUA à da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. Ambos criticaram os levantes pró-democracia de 2011 no Oriente Médio. Riad e Abu Dabi aplaudiram o golpe de 2013 contra o governo eleito do então presidente egípcio, Mohammed Morsi, membro da Irmandade Muçulmana, e têm dado apoio financeiro ao brutal regime de seu sucessor, o presidente Abdel Fattah al-Sissi.