Justiça turca solta pastor americano preso desde 2016
Andrew Brunson, pivô de tensão diplomática que afetou economia mundial, é autorizado a deixar a Turquia e voltar aos EUA
Um tribunal da cidade de Izmir, oeste da Turquia, condenou ontem o pastor americano Andrew Brunson por “vínculos terroristas”, mas suspendeu sua prisão domiciliar e as restrições judiciais contra ele, o que permitiu ao religioso deixar o país e voltar para os EUA.
O caso do pregador evangélico, preso na Turquia em uma das ondas de expurgos ordenadas pelo presidente Recep Tayip Erdogan – após a tentativa frustrada de golpe em 2016 – é uma das causas principais das tensões entre Ancara e Washington. O pastor chegou a ser apontado como um dos pivôs da guerra comercial entre os dois países, que derrubou o valor da lira turca em agosto e afetou a economia de diversos países, entre eles o Brasil.
O julgamento de Brunson em Izmir, onde ele dirigia uma pequena congregação evangélica, foi concluído pouco depois de funcionários do governo americano ouvidos pelo jornal Washington Post dizerem que os dois governos tinham chegado a um acordo para garantir a libertação do religioso.
Em Washington, Jay Sekulow, advogado da família Brunson, disse que o religioso foi libertado sob custódia de diplomatas americanos e deve voar hoje para uma base americana na Alemanha antes de seguir para os EUA.
Brunson, de 50 anos, ficou preso 2 anos, acusado de terrorismo e espionagem, o que ele e o presidente americano, Donald Trump, negam. Promotores turcos o acusaram de ser ligado tanto a separatistas curdos quanto à organização liderada pelo dissidente Fethullah Gülen – acusado por Erdogan de planejar o golpe. Após a notícia da libertação de Brunson, Trump escreveu no Twitter: “Meus pensamentos e orações estão com o pastor Brunson e espero que esteja em casa logo!”
O julgamento aprofundou a divergência entre Turquia e EUA, que já estavam em desacordo em razão do apoio dos americanos a combatentes curdos que lutam contra o Estado Islâmico na Síria. Nos últimos meses, Washington passou a considerar a libertação do pastor uma prioridade e, em agosto, impôs sanções a dois membros do alto escalão do governo turco para pressionar Ancara.
Erdogan afirmara que seu governo não poderia interferir em um julgamento em andamento. Mas, na quinta-feira, funcionários do governo Trump afirmaram ao Post que os dois países tinham um acordo – feito à margem da Assembleia-Geral da ONU – para libertar o pastor.
A negociação, afirmaram as fontes, incluiria a suspensão das sanções aos ministros turcos em troca de uma pena reduzida para Brunson – que poderia ser na forma de uma condenação já cumprida em razão dos 2 anos preso na Turquia ou uma condenação em regime aberto, que pudesse ser cumprida nos EUA.
Especialistas creem que as dificuldades econômicas da Turquia após as sanções americanas possam ter feito Erdogan interferir no julgamento.