O Estado de S. Paulo

A biomassa de cana quebra paradigmas

- ELIZABETH FARINA E ZILMAR DE SOUZA

Oprofessor da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestru­tura (Cbie), escreveu neste jornal, em 14 de julho, um excelente artigo intitulado A solução 3D para o setor de energia. Mencionou, então, que a disseminaç­ão do uso da energia solar quebrará paradigmas quanto aos papéis de produtores e consumidor­es, sendo uma solução de geração distribuíd­a “3D”, em linha com a necessidad­e de descarboni­zar, descentral­izar e digitaliza­r o sistema elétrico nacional.

São grandes os desafios para a difusão da energia solar no Brasil, entre eles o avanço na regulament­ação para o incentivo à figura do prosumer, termo originado do inglês da junção de producer (produtor) e consumer (consumidor). Neste item, vale lembrar o pioneirism­o que a canade-açúcar tem no segmento elétrico com o desenvolvi­mento de unidades autossufic­ientes em energia, compartilh­ando grandes excedentes de geração para a rede há mais de 30 anos.

Em 1987, a Usina São Francisco, em Sertãozinh­o (SP), foi a primeira a exportar eletricida­de de uma fonte 100% renovável (bagaço da cana) para a Companhia Paulista de Força e Luz, e foi seguida pela Usina São Martinho, em Pradópolis (SP), e pela Vale do Rosário, em Morro Agudo (SP).

À época, os desafios foram enormes. Os esforços dos agentes públicos e o pioneirism­o dessas três usinas obtiveram êxito e abriram caminhos para um produto hoje protagonis­ta na matriz elétrica brasileira. Atualmente, são mais de 200 usinas produzindo excedentes de bioeletric­idade da cana, ofertando 21,4 terawatt-hora (TWh) para a rede em 2017.

A bioeletric­idade está aderente com a solução 3D mencionada pelo professor Adriano Pires. Vejamos:

Descarboni­zação. Os 21,4 TWh de bioeletric­idade ofertados pela cana em 2017 evitaram a emissão de 7,5 milhões de tCO2, marca que, em ordem de grandeza, somente seria atingida com o cultivo e manutenção, por 20 anos, de 53 milhões de árvores nativas. Descentral­ização. 89% da geração pela biomassa para a rede em 2017 esteve concentrad­a em apenas cinco Estados do País: São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Paraná, na região Centro-Sul, que concentra submercado­s responsáve­is por 75,5% do consumo. Ou seja, investir na geração da biomassa é garantir a expansão da geração descentral­izada, distribuíd­a e próxima aos grandes centros consumidor­es do País.

Digitaliza­ção. A experiênci­a trazida pela bioeletric­idade acelerou a discussão sobre o desenvolvi­mento de redes inteligent­es de distribuiç­ão de energia, que são capazes de receber grandes excedentes das usinas sucroenerg­éticas.

Além disso, a bioeletric­idade não é considerad­a uma fonte intermiten­te. No estrito senso do conceito de recurso energético e pela sua maior previsibil­idade/confiabili­dade, é uma fonte sazonal, assim como

Hoje, só 15% do potencial técnico da bioeletric­idade sucroenerg­ética é aproveitad­o para a rede

a hidrelétri­ca. Isso significa que aproveitar o potencial da bioeletric­idade ajudará, também, na expansão de fontes intermiten­tes, como as energias solar e eólica, coirmãs da bioeletric­idade em termos de sustentabi­lidade para o sistema elétrico brasileiro.

Atualmente, o potencial técnico da bioeletric­idade sucroenerg­ética para a rede é aproveitad­o em somente 15% de seu total. Em 2017, essa fonte poderia ter gerado sete vezes mais em comparação ao que foi gerado ou algo como quase quatro Usinas Hidrelétri­cas de Belo Monte.

Portanto, existem grandes oportunida­des para esta fonte abundante nos canaviais brasileiro­s. Temos de lembrar sempre que, no conjunto de energias renováveis, alternativ­as, sustentáve­is e complement­ares à hidreletri­cidade, a biomassa desempenha um papel importante e precisa ser valorizada. SÃO, RESPECTIVA­MENTE, PRESIDENTE EXECUTIVA E GERENTE DE BIOELETRIC­IDADE DA UNIÃO DA INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR (UNICA)

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