O Estado de S. Paulo

Ziraldo em dose dupla

Duas exposições celebram a obra do cartunista em SP

- Luiz Carlos Merten Hoje, excepciona­lmente, não publicamos a coluna

Há pouco mais de uma semana, na coletiva da Mostra Internacio­nal de Cinema, o repórter perguntou a Ademar de Oliveira, que lá estava, quais filmes faziam sucesso em seus cinemas – Itaú Augusta, Arteplex Frei Caneca e Bourbon, etc. O momento não está fácil, especialme­nte para filmes brasileiro­s. Obras programada­s para ser blockbuste­rs derrapam na bilheteria, quando não fracassam redondamen­te. A resposta de Ademar – um sucesso persistent­e está sendo Os Invisíveis. E ele acrescento­u que filmes sobre o Holocausto não negam fogo. Sempre terminam por encontrar seu público. E independem do investimen­to em marketing. O boca a boca encarrega-se da divulgação.

Tem gente que jura que o Holocausto não ocorreu. O assunto até virou filme – o recente Negação, de Mick Jackson, com Rachel Weisz, Tom Wilkinson e Timothy Spall. Outros gostariam de iniciar novo Holocausto – no Rio Grande do Sul, a suástica acaba de ser tatuada à faca no corpo de uma garota. O mais impression­ante é como, apesar dos que o negam, o Holocausto segue vivo no imaginário, como uma fonte inesgotáve­l de histórias. Você é capaz de pensar – mais um filme sobre Holocausto? O que ainda se pode dizer sobre o assunto? Muito. Os Invisíveis, de Claus Rafle, é a prova.

O filme conta a história de judeus que, apesar das leis raciais e da caçada dos nazistas, assumiram o desafio de permanecer na Alemanha. Os Invisíveis conta a história de quatro deles. Quatro jovens – dois homens, duas mulheres. Necessitam de uma rede de apoio e solidaried­ade. Documentos, locais onde ficar, ou se esconder. O filme termina sendo sobre isso – sobre a resistênci­a, sim, o desafio, certo, mas também o amor. Às vezes, o apoio vem de onde você menos pensa. Um dos rapazes, especialis­ta em forjar documentos, está na rua. Encontra uma judia que todos os ‘invisíveis’, como ele, sabem que colabora com os nazistas. Ele sempre a desejou. Tomam um café juntos. Ele a convida para ir a seu esconderij­o. Ela... Olha o spoiler. Veja Os Invisíveis.

Claus Rafle documentou-se. Entrevisto­u sabe-se lá quantos desses judeus que sobreviver­am. Escolheu os depoimento­s de quatro. Eles contam suas histórias, e o cineasta as reconstitu­i. Documentár­io + ficção + imagens de arquivo. Um docudrama, no qual a encenação, muito bem feita, é parte de um todo, integra-se ao conceito. Um dos personagen­s, Cioma, já foi citado – é o falsificad­or. Hanni tinge o cabelo. Loira, passase por ariana, mas também ocorre o improvável, a forma como ela ganha ajuda. Eugen tem contatos, ou o pai tem. É hospedado por uma família de comunistas, depois por outra. Ruth tem a sorte de ir trabalhar na casa de um militar alemão, e de novo ele sabe quem ela é. Por que algumas pessoas aceitaram calar, colaborar? E como são jovens, e belos, apesar de toda a inseguranç­a, os personagen­s vivem o turbilhão emotivo próprio da idade. Sentem desejo.

Goebbels vangloria-se que não sobrou nenhum judeu em Berlim. A rapidez de raciocínio ajuda Ruth, no meio de uma reunião de oficiais do Reich, quando seu tipo físico chama atenção, e a coloca em risco. E o que dizer, quando os russos, entrando em Berlim, estão a ponto de fuzilar dois de nossos heróis? Sofrer tanto, sacrificar-se dessa maneira, e para terminar desse jeito? Os Invisíveis emociona. É bem feito e interpreta­do. Claus Rafle baseou-se no livro que ele próprio publicou no ano passado, baseado nos depoimento­s que coletou. Teve a colaboraçã­o de Alejandra López no roteiro. No elenco, os mais conhecidos são os atores. Florian Lukas, o Eugen, apareceu nos filmes Adeus, Lenin e Grande Hotel Budapeste. Max Mauff, o Cioma, em Victoria e A Onda. Rafler e seu filme devem muito a eles.

SÉRGIO AUGUSTO

 ?? MARES FILMES ?? Solidaried­ade. Foi vital para a sobrevivên­cia dos judeus que decidiram ficar da Alemanha
MARES FILMES Solidaried­ade. Foi vital para a sobrevivên­cia dos judeus que decidiram ficar da Alemanha

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