‘HÁ UM ACIRRAMENTO DOS CONFLITOS’
Pichações com símbolos nazistas, ameaças a homossexuais e assassinatos. Marcos Alvarez, sociólogo do Núcleo de Estudos de Violência da USP, conversou com a coluna sobre os atos de violência que têm aumentado gradativamente.
Como o senhor vê essa onda de violência por motivos políticos?
Não podemos falar ainda em onda porque esses casos precisam ser checados e sistematizados. O problema é que durante o processo eleitoral houve uma potencialização de conflitos. E um candidato, em especial, não defende valores ligados aos direitos humanos e à democracia.
Eleitores de Bolsonaro afirmam que, mesmo com discurso agressivo, ele não tomará atitudes nesse sentido. O senhor concorda?
Fazendo uma análise, discursos que fazem a apologia da violência têm consequências. Em primeiro lugar, acho que ele precisaria ser mais incisivo na condenação dos atos de violência. Não é simples o salto entre uma narrativa de violência e os atos propriamente ditos. No entanto, quem está no espaço público, na liderança, tem mais responsabilidade para tentar evitar esse tipo de situação.
O próprio candidato Bolsonaro foi vítima de um ataque de violência.
O que eu tenho visto é uma acirramento desses conflitos – e o candidato foi vítima de um ato que tem que ser totalmente condenado por todos. Só que eu acho que ele poderia se colocar como vítima e dizer que, por isso mesmo, condena qualquer forma de violência. O problema é que ele já falou coisas diferentes disso.
Acredita que o clima beligerante das redes está chegando às ruas?
O fato novo desta eleição é o uso de novas tecnologias para influenciar o voto e construir narrativas. O perverso desse debate é que tudo parece ter o mesmo peso: uma fake news está tendo o mesmo peso da notícia dada por jornalista sério. Os dois candidatos teriam que ajudar a requalificar o espaço público. Não é o que está acontecendo.