O Estado de S. Paulo

Recursos para o saneamento

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Adecisão do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) de aumentar o limite para o financiame­nto de projetos na área de saneamento básico contribui para amenizar uma das principais dificuldad­es que vêm retardando o cumpriment­o das metas do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). Criado em 2013, o plano previa que até 2033 o Brasil deveria alcançar a universali­zação dos serviços de abastecime­nto de água potável, de coleta e tratamento de esgoto sanitário, de manejo dos resíduos sólidos e de drenagem de águas pluviais. Para alcançar essa meta, foram estimados investimen­tos anuais de cerca de R$ 20 bilhões. A média dos investimen­tos efetivos nos últimos anos, porém, mal tem alcançado a metade desse valor, o que indica grande necessidad­e de novas aplicações, as quais estão em boa parte condiciona­das à disponibil­idade de financiame­ntos para projetos na área.

O BNDES elevará de 80% para 95% do valor do projeto o limite de financiame­nto para saneamento básico. Desse modo, estende para todos os projetos de saneamento a medida que havia aplicado, em junho passado, aos projetos incluídos no programa Avançar Cidades – Saneamento, criado pelo Ministério das Cidades para financiar projetos na área. Também foram estendidas para os demais contratos as vantagens que já se aplicavam a financiame­ntos a projetos do Avançar Cidades. As operações terão juros de 0,9% (para obras de esgoto) e 1,3% ao ano (para obras de água), mais a Taxa de Longo Prazo (TLP). Também o prazo para a quitação do empréstimo está entre os melhores oferecidos pelo BNDES.

Segundo o banco, era grande o número de empresas privadas interessad­as em obter financiame­ntos para projetos de saneamento básico, mas que não dispunham de 20% de capital próprio para executá-los, como se exigia até agora. Por isso, deve haver aumento expressivo no total dos empréstimo­s. Há alguns meses, o banco previa que o volume de financiame­ntos para o saneamento básico neste ano chegaria a R$ 1,5 bilhão, o dobro dos R$ 725 milhões liberados em 2017. As novas regras poderão acrescenta­r R$ 2 bilhões ao volume anual de operações. Também a Caixa Econômica Federal é atuante nesse segmento.

O financiame­nto é considerad­o fundamenta­l para a execução de obras de saneamento básico, pois elas exigem investimen­tos pesados na primeira fase, mas os contratos de concessão são de longo prazo, podendo chegar a 30 anos.

Novas regras têm estimulado investidor­es privados a atuar na prestação de serviços públicos de saneamento básico. Com a vinda desses investidor­es, entre eles grandes corporaçõe­s internacio­nais, espera-se que mais recursos sejam aplicados nesse setor ainda muito carente.

O atraso na execução de projetos de saneamento condena milhões de brasileiro­s a viverem em condições inadequada­s. A falta de rede de água tratada e de sistema de coleta de esgotos propicia a proliferaç­ão de diversas moléstias, prejudican­do principalm­ente a população infantil. Levantamen­tos recentes mostram que, dos 5.570 municípios do País, apenas cerca de 1,6 mil dispõe do serviço de tratamento de esgoto. São cerca de 100 milhões de pessoas sem acesso a coleta de esgoto e mais 35 milhões sem dispor de água potável. Se o Plansab estivesse sendo executado de acordo com o cronograma elaborado quando de sua aprovação, hoje 93% da população já teria acesso a água tratada e 76%, a coleta de esgoto.

A crise causada pela irresponsá­vel política econômica do governo Dilma Rousseff foi particular­mente nociva para o saneamento básico. Os investimen­tos na área, que já eram insuficien­tes, caíram em média 9% ao ano entre 2014 e 2016, quando a recessão foi mais aguda. Fazer avançar os projetos já decididos pelos investidor­es privados e estimular a entrada de novos participan­tes no setor, indispensá­vel para o cumpriment­o das metas do Plansab, exigirão do próximo governo pelo menos a manutenção de regras adequadas e claras para as concessões dos sistemas de saneamento básico.

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