O Estado de S. Paulo

Apenas túnel tinha indício de desvio, diz Haddad

Petista afirma que suspeitas de sobrepreço não se aplicavam às outras obras contratada­s

- Fabio Leite

O ex-prefeito de São Paulo e candidato a presidente pelo PT, Fernando Haddad, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “as suspeitas de superfatur­amento se aplicavam apenas ao túnel” previsto nos contratos de prolongame­nto da Avenida Roberto Marinho e que, por isso, deu sequência às demais obras do projeto.

“As suspeitas de superfatur­amento se aplicavam apenas ao túnel. As outras obras foram analisadas e não havia indício de superfatur­amento. É sabido que o superfatur­amento se dá em obras de arte (túnel e viaduto), cujo custo é de difícil aferição”, diz nota divulgada pela assessoria do candidato.

Haddad afirma que quem o alertou sobre os indícios de sobrepreço na obra do túnel foi o então secretário municipal de Obras, Osvaldo Spuri, que já havia trabalhado na Dersa, empresa do governo do Estado que iria executar as obras do Sistema Viário Metropolit­ano de São Paulo. Mas como as obras da Roberto Marinho seriam executadas com dinheiro da Operação Urbana Água Espraiada, que é municipal, o projeto foi repassado para a Prefeitura em 2011, ainda na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD).

“Antes de suspender as obras do túnel da Avenida Roberto Marinho, o prefeito (Haddad) foi alertado pelo seu secretário de Obras, Osvaldo Spuri, quadro técnico, apartidári­o, funcionári­o da Dersa, que os custos apresentad­os estavam 30 a 40% acima dos valores que ele julgava adequados”, afirma o presidenci­ável. A reportagem não conseguiu contato com Spuri.

Questionad­o sobre o motivo de ter omitido os indícios de superfatur­amento em 2013, quando suspendeu a obra, e não ter comunicado o fato aos órgãos de investigaç­ão, como Ministério Público e Controlado­ria-Geral do Município, Haddad afirmou que não havia provas na época e que “protegeu a cidade

com as informaçõe­s que tinha” ao suspender a execução.

“O prefeito louvou-se nos relatórios da Secretaria de Obras e encaminhou-os à Controlado­ria-Geral

do Município. Como a obra do túnel havia sido licitada na gestão anterior, sob liderança do Paulo Preto (Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa acusado de organizar o cartel das

empreiteir­as), ligado ao PSDB, a suspensão e o posterior cancelamen­to foram considerad­as ações suficiente­s para preservar o município.”

Ainda segundo a assessoria do presidenci­ável petista, “as provas do cartel só apareceram depois que o prefeito deixou a Prefeitura, em acordo de leniência da própria Odebrecht”.

No termo celebrado com o Ministério Público, a empreiteir­a admite a prática de cartel, pagamento de propina e caixa 2 a Souza, Kassab, mas não fala sobre superfatur­amento nos preços dos contratos. Até deixar o cargo, em 2012, Kassab já havia pagado R$ 105 milhões às empreiteir­as. Ele nega ter cometido irregulari­dades nas contrataçõ­es.

Procuradas pela reportagem, as empresas Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, que lideram os consórcios contratos pela Prefeitura, não quiseram se manifestar.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Discurso. Haddad durante encontro com coletivos culturais na Cohab Raposo Tavares, em SP

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