O Estado de S. Paulo

Sunita convertido que garante ter se afastado do Islã

Músico afirma que os muçulmanos o condenavam por tocar em bandas e diziam que isso era pecado

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As cartas escritas na cadeia por Welington Moreira de Carvalho, o único réu conhecido que permanece em prisão preventiva pela acusação de promover grupos terrorista­s no Brasil, descrevem um afastament­o da religião ao longo dos anos. Em sua defesa, ele diz que não se considerav­a mais muçulmano desde 2014. Da sua conversão ao islamismo sunita em 2002, conta que passou pelo sufismo – uma corrente esotérica do Islã – e pela seita do Santo Daime até resolver abandonar a religião como um todo e se guiar por princípios filosófico­s.

Músico, Welington se mudou para a cidade de Ubá, no sudeste de Minas Gerais, para trabalhar como baixista em bandas da região após se sentir isolado pela comunidade sunita no Rio de Janeiro. “É bem verdade que entre 2002 e 2005 eu estava na dúvida entre ser radical ou ser músico, mas graças a Deus, preferi a música”, ele escreveu.

Welington diz que foi alvo de críticas dos muçulmanos após tocar em musicais com temas cristãos. Chegou a desfilar na comissão de frente da escola de samba Império Serrano com uma fantasia de São Jorge, em 2007. Ouvia que música era pecado e deveria abandonar a profissão, mas dava pouca importânci­a aos conselhos.

“Farto de tantas críticas, resolvi me afastar do Islã sunita em 2009”, afirma. No interior de Minas, ele dividia seu tempo entre aulas em uma escola de música e “bicos” como segurança e instalador de alarmes e câmeras.

Cerca de um ano depois, ele se matriculou em um curso de Licenciatu­ra em Sociologia com aulas à distância. Em seus emails estão gravados alguns dos trabalhos acadêmicos e comunicado­s da entidade. Nas cartas, o réu conta que foi preso a um mês da sua formatura. “A sociologia me deixou meio cético em relação à religião”, conta.

Conversas virtuais, encontrada­s pela PF em seu celular e incluídas nos autos, mostram planos de recrutamen­to com a finalidade de treinament­o paramilita­r na região Norte e de um ataque em território nacional. A polícia também achou vídeos em que Welington diz: “Somos do Jihad, e vamos baixar na direção do combate em nome de Alá”.

“Vossa Excelência, isso não passava de ‘bravata’, até porque não existem condições financeira­s nem know-how para tal empreendim­ento”, respondeu ao juiz na videoconfe­rência, quando questionad­o sobre as acusações.

Na oitiva, ele também disse ao magistrado que a prisão acelerou um processo de separação da sua mulher.

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ARQUIVO PESSOAL Welington. Músico foi preso em dezembro de 2017

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