O Estado de S. Paulo

Menor imposto sobre fortunas faz Macron atrair banqueiros

Críticos dizem que ações para atrair instituiçõ­es financeira­s resultam em perda no poder de compra dos mais pobres

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Um dos principais atrativos da França para “herdar” parte do espólio do mercado financeiro do Reino Unido após a saída da União Europeia é Emmanuel Macron. Ex-banqueiro do Rothschild, eleito em maio de 2017, o presidente francês lançou uma ofensiva para mudar legislaçõe­s, reduzir impostos sobre fortunas e, com isso, atrair a Paris os executivos de grandes instituiçõ­es financeira­s que temiam a alta tributação.

Desde que assumiu, Macron enviou ao Parlamento francês projetos de reformas que beneficiar­am os detentores de grandes fortunas. O Imposto sobre Fortuna, por exemplo, deixou de existir e foi substituíd­o pelo Imposto sobre Fortuna Imobiliári­a, excluindo quem investe no mercado de ações.

Outra lei, aprovada em julho, previa incentivos fiscais para quem decide se mudar para Paris atraído por oportunida­des de trabalho. O texto previa até a criação de escolas bilíngues na região de La Défense, o distrito financeiro nos arredores da capital francesa.

Outra legislação recente é a Lei Pacte, com medidas para facilitar o trâmite burocrátic­o de executivos que se mudam para Paris. Entre as medidas estão a redução de impostos. Além dos incentivos, a capital francesa é vista como um centro de clientes internacio­nais que passam pela Europa.

As medidas tomadas para atrair o capital financeiro a Paris já surtem um efeito colateral. Um estudo divulgado na quinta-feira pelo Instituto de Políticas Públicas (IPP), concluiu que as últimas reformas realizadas por Macron resultarão em uma perda de poder de compra da ordem de 0,5% a 1% para os 20% de franceses mais pobres, de ganho de cerca de 1% para os 60% das classes médias, de perda de 1% para os 20% mais ricos e ganho de 6% para o clube dos “ultra-ricos”, o 1% mais abastado na sociedade.

“Emmanuel Macron escolheu priorizar a imagem de uma França pró-business, mas há risco de o custo ser elevado”, avalia Antoine Bozio, diretor do instituto, que lembrou a pecha de “presidente dos ricos”, atribuída por seus opositores.

“Agora todos focam na alta da renda dos mais abastados. A rejeição a essas medidas poderia impedir o governo de levar a cabo outras reformas estruturai­s necessária­s.”

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