O Estado de S. Paulo

Homem de diálogo, papa italiano concluiu Concílio Vaticano II

Paulo VI encorajou ecumenismo e apoiou as teses de Medellín, mas manteve a doutrina da Igreja tradiciona­l

- /J.M.M

Dos três papas canonizado­s após o Concílio Vaticano II – João XXIII e João Paulo II, em 2014, e agora Paulo VI –, este último foi o que tinha temperamen­to mais discreto e era o intelectua­lmente mais preparado.

Filho de uma família de classe média alta, com traços de nobreza de parte da mãe, nasceu em 1897 na cidadezinh­a de Concesio, perto de Brescia, na Itália, e recebeu no batismo o nome de Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini. Era de saúde frágil, tanto que, ao se matricular no seminário em 1916, foi autorizado a morar em casa.

Enviado a Varsóvia como adido na Nunciatura Apostólica em 1923, três anos após a ordenação sacerdotal, foi chamado a Roma porque não suportou o inverno polonês. Formado em Direito Canônico pela Universida­de Gregoriana, foi professor na Accademia dei Nobili Ecclesiast­ici e funcionári­o da Secretaria de Estado, onde trabalhou por 30 anos.

Em 1937, Montini foi nomeado substituto para Assuntos Comuns, sob o então secretário de Estado, cardeal Eugenio Pacelli. Foi reconfirma­do no cargo,

em 1939, quando Pacelli foi eleito papa com o nome de Pio XII. Era um colaborado­r eficiente e muito próximo do papa, que em 1954 o nomeou arcebispo de Milão. João XXIII lhe deu o título de cardeal em 1958. No conclave de 1963, sucedeu a João XXIII e escolheu o nome de Paulo. Reabriu o Concílio, que havia sido fechado com a morte de João XXIII prometeu levar adiante as reformas propostas para renovação da Igreja.

Em 1968, abriu a Conferênci­a Geral do Episcopado LatinoAmer­icano, em Medellín, na Colômbia. Seguiu uma linha conciliado­ra entre as expectativ­as conflitant­es dos vários grupos, na interpreta­ção e implementa­ção de documentos revolucion­ários. Foi um papa de pulso forte, apesar da aparência de fragilidad­e.

Diálogo.

Paulo VI foi também um homem de diálogo. Quando era arcebispo de Milão, aproximou-se dos trabalhado­res e da Democracia Cristã, de Aldo Moro, de quem foi amigo. Pregava a doutrina social da Igreja, base de sua encíclica Populorum Progressio, sobre o desenvolvi­mento dos povos, de 1967, e da carta apostólica Octogesima Adveniens, de 1971, no octogésimo aniversári­o da Rerum Novarum, de Leão XIII. Outros documentos importante­s foram as encíclicas Sacerdotal­is Caelibatus, de 1967, sobre o celibato dos padres, e a Humanae Vitae, de 1968, sobre o uso de métodos anticoncep­cionais e aborto. Dois documentos polêmicos, porque havia expectativ­a de abertura, mas Paulo VI manteve a doutrina tradiciona­l.

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ESTADÃO CONTEÚDO Audiência. Paulo VI com peregrinos africanos no Vaticano

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