O Estado de S. Paulo

Rombo bilionário fica no centro do debate de Minas

Candidatos ao governo mineiro se compromete­ram com cortes de secretaria­s e cargos, mas divergem quanto as privatizaç­ões

- Eduardo Rodrigues Idiana Tomazelli Adriana Fernandes

O rombo de quase R$ 12 bilhões nas contas de Minas Gerais no próximo ano centraliza o debate eleitoral no segundo turno no Estado. Romeu Zema (Novo) e Antonio Anastasia (PSDB) se compromete­m cortar secretaria­s e cargos, mas divergem em relação à privatizaç­ão das principais estatais do Estado, Cemig e Copasa. Embora tenha declarado calamidade financeira ainda em dezembro de 2016, o atual governador mineiro – derrotado nas urnas neste ano –, Fernando Pimentel (PT), não procurou o governo federal nenhuma vez para tentar aderir à recuperaçã­o, justamente por rechaçar essa contrapart­ida do programa.

Zema afirmou ao Estadão/Broadcast que fará o que for preciso para aderir ao programa de socorro do governo federal. Garante que as medidas serão avaliadas pela sua equipe econômica – agora comandada pelo economista e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco – e devem ser tomadas logo no começo de 2019.

A ideia é privatizar, em médio e longo prazos, parte dos serviços da Cemig e da Copasa, abrindo o mercado para a concorrênc­ia nos setores de energia e saneamento. “O exemplo disso é a telefonia. Imagine se ainda tivéssemos somente a Telemig?”, afirmou Zema ao Estado.

O senador e ex-governador de Minas entre 2011 e 2014, Antonio Anastasia, não respondeu à reportagem, mas, durante a sua campanha no primeiro turno não fez menção a uma possível adesão ao regime. Em sabatina realizada no primeiro turno, Anastasia foi enfático ao afirmar que a Cemig sempre teve uma administra­ção autônoma em relação ao governo mineiro e reforçou que não tem nenhum intuito em privatizar a empresa. O candidato pleiteia ajuda da União, mas para outras medidas, entre elas a criação de um fundo de previdênci­a estadual. Anastasia também pede mais recursos ao governo federal por meio da Lei Kandir.

No Rio Grande do Sul, o atual governador, José Ivo Sartori, diz que, com o alívio da adesão do Estado ao programa teria fôlego financeiro para pagar os salários em dia, investir em educação, saúde e infraestru­tura, caso seja reeleito.

Seu adversário na disputa em segundo turno, Eduardo Leite (PSDB), não respondeu às perguntas da reportagem. Mas seu plano de governo cita a necessidad­e de renegociar a dívida gaúcha com a União, alongando o prazo de pagamento e permitindo a contrataçã­o de novos empréstimo­s. O plano não cita propriamen­te o programa de socorro do governo federal, mas o candidato já disse em entrevista­s ser favorável à adesão, desde que o prazo de suspensão do pagamento da dívida seja superior aos três anos previstos em lei e que haja flexibilid­ade para contrataçã­o de novos servidores.

Em comum, ambos os candidatos rechaçam qualquer possibilid­ade de venda do Banrisul, a joia da corroa do governo e da população gaúcha, que é muito apegada ao banco estadual. Aceitam, porém, a privatizaç­ão de empresas estaduais na área de energia, o que inclui a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) – que precisará de um aporte de R$ 2 bilhões até 2020 se não for vendida –, a Companhia Riogranden­se de Mineração (CRM) e a Sulgás.

Revisão de termos. No Rio, os dois candidatos ao Palácio Guanabara no segundo turno – Eduardo Paes (DEM) e Wilson Witzel (PSC) – defendem rever os termos do acordo com o governo federal e se posicionam contra a venda da Cedae. “A Cedae vai permanecer como uma empresa pública, mas podendo trabalhar em determinad­as áreas com o setor privado (para ampliar o atendiment­o)”, disse a campanha de Paes por meio de sua assessoria. Segundo ele, o plano de recuperaçã­o “não obriga” o Estado a se desfazer da companhia, mas coloca a Cedae como uma “garantia” caso o Estado não adote as medidas de ajuste. “Mas nós vamos fazer o dever de casa”, afirma Paes.

O projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativ­a do Rio (Alerj) colocou as ações da estatal como garantia de um empréstimo de R$ 2,9 bilhões, já contratado e que precisará ser quitado no fim de 2020. Se a venda da Cedae não for concretiza­da

até lá, ou o Estado precisará tirar o dinheiro do próprio bolso, ou a companhia será federaliza­da – sem que o Rio receba a outra metade do valor da venda.

Witzel também afirma que não dará seguimento à privatizaç­ão da Cedae no modelo atual, vinculado ao regime. “Vamos abrir o mercado do saneamento para empresas investidor­as através de planos de longa duração e com segurança jurídica real”, diz. A campanha do candidato do PSC afirma ainda que vai fazer um “amplo debate” sobre o tema com a sociedade para ter uma “decisão definitiva”.

Tanto Paes quanto Witzel defendem ainda renegociar os termos do socorro dado pela União, que obriga o Estado a adotar medidas de ajuste em troca da suspensão do pagamento das dívidas por até três anos. Eles também falam em preservar os salários dos servidores públicos. Recentemen­te, reajustes salariais aprovados pela Alerj precisaram ser suspensos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) diante do risco de o Rio ser excluído do RRF (que restringe a concessão de aumentos) e ter de ressarcir R$ 18,8 bilhões à União.

 ?? WASHINGTON ALVES/ESTADÃO-8/10/2018 ?? Socorrro.
WASHINGTON ALVES/ESTADÃO-8/10/2018 Socorrro.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil