O Estado de S. Paulo

Muita confusão à vista

- JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

No primeiro turno das eleições ocorreu a polarizaçã­o que se vislumbrou, com uma avalanche de votos úteis dados a Bolsonaro. A renovação do Congresso foi inesperada­mente elevada.

Que podemos esperar para este segundo turno?

O PT vai tentar migrar para o centro, operando uma transforma­ção instantâne­a, que começou na vestimenta do candidato e passa pela busca de apoio de vários líderes, tarefa a ser realizada por Jaques Wagner, especialme­nte.

Mais que isso, parte de seu programa será apagada, o que se iniciou com a negação da necessidad­e de uma Constituin­te. Além disso, ao invés de rejeitar a existência de qualquer problema na Previdênci­a, temos agora uma vaga menção a alguma reforma. Mas quem vai acreditar nisso, consideran­do que o responsáve­l pelo programa registrado no TSE foi o próprio Fernando Haddad?

Na essência, sua proposta é ainda uma repetição de tudo que deu errado no passado, girando em torno de uma proposta para o uso da política fiscal e creditícia (aparenteme­nte acrescida agora pelo programa de limpeza da inadimplên­cia de alguns milhões de eleitores, do candidato Ciro Gomes) para relançar a economia e fazer o “ajuste” via cresciment­o.

A chance de este plano dar certo é, a meu juízo, próxima de zero.

Além disso, o partido tem uma longa história de não cumprir acordos, dada sua vocação hegemônica.

Bolsonaro vai reafirmar seu discurso. Não precisa atrair o centro, porque isso já ocorreu com seus eleitores. Precisa apenas do simbólico apoio de alguns líderes e, mais importante, não cometer nenhum erro, que o resto cai por gravidade. Sua vitória é altamente provável.

Vai continuar escondendo seu vicepresid­ente e seu programa econômico, que parece carregado de contradiçõ­es, como a estimativa furada do valor de privatizaç­ões, a redução da carga tributária, sem CPMF, entre outras. Além disso, manifestaç­ões do candidato falam de empresas estratégic­as que não poderão ser privatizad­as, como a Eletrobrás, e de uma indefinida reforma da Previdênci­a. Está mesmo nebuloso e confuso.

Ademais, um grande problema é a inexperiên­cia e o improviso. Nem o candidato nem o ministro forte jamais chegaram perto do executivo e não têm noção de sua complexida­de e das dificuldad­es de mudar coisas para enfrentar a gravidade da situação, especialme­nte fiscal. Montar e operar equipes nessas circunstân­cias será uma tarefa hercúlea. O mesmo vale para o legislativ­o, onde muita gente nova, cheia de votos e de amor para dar, vai querer exercer poder. Aqui também a falta de experiênci­a será a marca.

Muita confusão à vista. Enquanto isso, o mercado faz festa, pois não ganhando o PT tudo estará resolvido. Simples assim. Acredite quem quiser.

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Para quem acompanha de perto o mercado de capitais, o anúncio do acordo feito, em 1º de outubro, entre a Qualicorp e seu CEO e maior acionista foi um choque. Pelo contrato, a companhia transferiu R$ 150 milhões para que ele continuass­e na empresa por mais alguns anos e que mantivesse sua posição de 15% das ações durante esse período.

O susto explica-se: transações com partes relacionad­as compõe um dos itens mais delicados na questão de governança das empresas abertas, especialme­nte pelos impactos negativos que podem ter sobre acionistas minoritári­os. E o acordo acima mencionado foi elaborado sem o conhecimen­to destes.

Após a forte reação do mercado (a ação caiu 30% no primeiro pregão após o anúncio), a companhia anunciou, entre outras coisas, a criação de um Comitê de Governança e uma mudança no estatuto social para tornar obrigatóri­a a submissão de novas operações com partes relacionad­as a Assembleia Geral.

Embora as mudanças sejam louváveis, dois fatos permanecem: decisões relevantes foram tomadas sem o conhecimen­to dos minoritári­os e a saída de substancia­l quantia para o bolso do principal gestor e acionista reduziu o valor da empresa.

Esses dois eventos são inaceitáve­is do ponto de vista das boas práticas de um mercado de capitais relevante para todos e para o País.

ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS. ESCREVE QUINZENALM­ENTE

Nem o candidato nem o seu ministro forte jamais chegaram perto do executivo

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