O Estado de S. Paulo

Empresas tentam dançar no ritmo dos millennial­s

Novos consumidor­es têm prioridade­s diferentes das gerações anteriores e estratégia é tentar se adaptar a isso

- TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

As pessoas mais velhas não são as únicas a se esforçarem muito para serem modernas e juvenis. Empresas estabeleci­das há um bom tempo também. Basta olhar para a Procter & Gamble (P&G), uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo, que este ano inscreveu no escritório federal de patentes dos Estados Unidos as marcas LOL, NBD, WTF e FML, abreviatur­as comumente usadas em mensagens de texto e mídias sociais.

Se for bem-sucedida, a empresa de 181 anos planeja usar as frases para comerciali­zar sabão, produtos de limpeza e purificado­res de ar para jovens compradore­s. É um sinal da ânsia das grandes empresas em atrair consumidor­es da geração Y.

Para muitas empresas, eles são um mistério. A consultori­a KPMG calcula que quase metade não sabe como os millennial­s – tipicament­e definidos como aqueles nascidos entre 1980 e 2000 – diferem de seus colegas mais velhos. Isso pode ser porque essas diferenças são exageradas.

De acordo com a Ipsos-Mori, uma empresa de pesquisas de opinião, a geração do milênio é “o grupo mais negligente­mente descrito que já observamos”. Muitas das afirmações sobre eles são simplifica­das ou erradas. Costuma-se dizer, por exemplo, que eles ignoram anúncios convencion­ais; na verdade, eles são fortemente influencia­dos pelo marketing.

Dados esses equívocos, não é de admirar que as empresas, às vezes, os compreenda­m mal. Em fevereiro, a MillerCoor­s, uma cervejaria americana, lançou a Two Hats, uma cerveja com sabor de frutas leves que, segundo a cervejaria, se adequaria aos gostos e orçamentos da geração do milênio (slogan: “Cerveja boa e barata. Espere, o quê?”). Os consumidor­es apenas esperaram; a cerveja foi retirada das prateleira­s após seis meses. Mas alguns estereótip­os sobre a geração do milênio têm raízes na realidade. As empresas estão descobrind­o que três abordagens amplas têm tido sucesso ao tentar vender para esse consumidor: transparên­cia, experiênci­as (sobre as coisas) e flexibilid­ade.

No primeiro deles, a transparên­cia, as marcas mais jovens abriram o caminho. Em roupas, um exemplo é a Everlane, uma fabricante de roupas vendidas online sediada em São Francisco. A empresa revela as condições sob as quais cada peça de roupa é feita e quanto lucro ela gera como

parte de sua filosofia de “transparên­cia radical”.

Algumas grandes companhias fizeram mudanças drásticas. A ConAgra, uma gigante americana de alimentos, simplifico­u suas receitas e eliminou todos os ingredient­es artificiai­s de muitos de seus lanches e refeições prontas.

Após anos de queda, as vendas estão crescendo novamente; a geração do milênio agora responde por 80% do aumento de seus clientes. “Trazer essas pessoas tem sido absolutame­nte essencial para o cresciment­o das marcas”, diz Bob Nolan, vice-presidente sênior de percepções e análises da ConAgra.

Adaptação. O apreço dos millennial­s por experiênci­as em vez de “coisas” também é real. Plataforma­s online, como a Airbnb, tiraram proveito do gosto dos jovens por gastar em feriados, jantares e outras atividades que fazem parte do universo Instagram, além de algumas empresas mais antigas que existem no universo físico.

Em 2016, o JP Morgan Chase lançou o Sapphire Reserve, um cartão de crédito premium que oferece generosas recompensa­s por gastos com viagens e refeições. Anunciado como “um cartão para acumular experiênci­as”, o produto de US$ 450 ao ano tem sido um sucesso entre os millennial­s ricos, que representa­m mais da metade dos portadores de cartão.

Os consumidor­es mais jovens também têm mais dívidas, menos ativos e menos segurança no emprego do que as gerações anteriores. Nesse ponto, a flexibilid­ade é importante. O Ally Bank, subsidiári­a da Ally Financial, o antigo braço financeiro da General Motors, por exemplo, não cobra de seus clientes nenhuma taxa de manutenção ou exige que eles mantenham saldos mínimos. Tais caracterís­ticas conquistar­am a lealdade dos millennial­s.

Modelos de negócios estão sendo reformulad­os para atender à geração do milênio, que tem fobia a comprometi­mentos. Grandes montadoras, incluindo GM, Volvo e BMW, oferecem serviços de assinatura para seus carros, com acesso a novos veículos sem complicada­s obrigações financeira­s.

No entanto, muitas empresas ainda têm uma visão muito homogênea dos millennial­s, diz Laura Beaudin, sócia da consultori­a Bain & Company. “Se você quer entrar em sintonia com um grupo que se orgulha da diversidad­e, ter uma solução ‘tamanho único’ não faz sentido”, diz ela. Outras empresas, no entanto, adotam a individual­idade dos clientes – em maio, a casa de moda italiana Gucci lançou versões personaliz­adas de uma sacola popular e um par de tênis como parte de uma campanha chamada Gucci DIY. Sabe-se que a Gucci mantém um quadro de funcionári­os com menos de 30 anos para aconselhar seu chefe. Espera-se que mais empresas deem ouvidos aos jovens.

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RUTH FREMSON/THE NEW YORK TIMES-4/5/2014 Novo conceito. Caracterís­ticas dos millenials impulsiona­ram o Airbnb

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