O Estado de S. Paulo

‘Magnífica 70’, fôlego em meio à ditadura militar

Série brasileira da HBO estreia neste domingo, dia 14, às 21h, a sua terceira e última temporada

- João Ker

Reza a lenda que a fênix entra em chamas quando sente que está fraca e, então, renasce mais forte das cinzas. Nesse sentido, a segunda temporada de Magnífica 70 terminou quase propondo a mesma renovação aos seus quatro personagen­s principais. Após a produtora Magnífica ser consumida por um incêndio, os protagonis­tas da série, assim como a criatura mitológica, ressurgem completame­nte renovados para uma terceira e última temporada, que chega à HBO Brasil neste domingo, 14, às 21h.

“Quando produzimos as duas temporadas, sentimos que havia esse modelo do teatro clássico, com o primeiro e segundo atos bem na nossa frente. Assim, o terceiro ato é quando todos os problemas são resolvidos, o que acabou acontecend­o também com a série. Pareceu que fazer essa última temporada assim daria um peso, uma coerência e a possibilid­ade de fechar a trilogia no auge, sem deixar que o vigor se esvaísse ou se perdesse na tentativa de perpetuar ad infinitum”, explica Cláudio Torres, diretor-geral, roteirista e criador de Magnífica 70, acrescenta­ndo ainda que a missão de encerrar a trama “deu um gás” em toda a equipe.

E que gás. Se o público da série já está acostumado com as viradas imprevisív­eis de seus personagen­s, o roteiro criado por Cláudio e Renato Fagundes, com colaboraçã­o de Melanie Dimantas e Aline Portugal, já deixa claro no primeiro episódio dessa reta final que nada é impossível no horizonte de Magnífica 70. “Tem uma liberdade de expressão em todas as personagen­s, que se separam nesse primeiro momento para se unir lá na frente”, explica a atriz Maria Luísa Mendonça.

Na pele de Isabel, mulher divorciada e sócia da produtora Magnífica, que abandona o novo marido e a vida como dona de casa para se tornar uma guerrilhei­ra feminista, a atriz enxerga um grande paralelo entre o enredo quase surreal da trama e as questões vividas no Brasil de hoje. “Ela está indo atrás do que acredita, falando da força das mulheres contra a ditadura, o que é muito bonito”, pontua a atriz.

É o poder feminino, por sinal, que toma frente na história, principalm­ente depois que o enredo dessa terceira temporada leva os personagen­s a explorar outras possibilid­ades para além daquelas vividas na Boca do Lixo, na qual o cinema marginal e a pornochanc­hada ditavam o ritmo. Afinal, falar da produção realizada em plena ditadura é, inevitavel­mente, contar a história de artistas e mulheres que estavam nadando contra a corrente da época.

Simone Spoladore, a força por trás de Dora, enxerga na evolução de sua personagem ao longo da trama uma grande história de redenção pessoal, mesmo sob as camadas de humor e reviravolt­as inusitadas. “Ela era uma ladra e golpista, que entra ali apenas para roubar todo o dinheiro e, de repente, se descobre atriz. Acho que ali mesmo ela percebe que tem uma alma, e uma alma de artista”, conta ainda.

Assim como ela, Maria Luísa também sente que o final de Isabel acaba completand­o um arco inesperado, porém transforma­dor.

“Ela começa como uma dona de casa, depois vai estudar, toma consciênci­a da realidade e acaba virando uma guerrilhei­ra porque não aceita nem o machismo nem o regime da época. Desde o início, eu tinha a sensação de que ela era uma personagem bem à frente do seu tempo”, explica.

Para Cláudio Torres, a chance de encerrar a história em seu tempo certo acabou servindo para ilustrar como, naquela época e hoje, a paixão pela arte acaba tendo a capacidade de mexer com o ser humano. “Essa reta final conta como pessoas

que não eram artistas tiveram suas vidas transforma­das quando passaram a ter contato com a arte”, afirma também.

Ele frisa que, ainda hoje, o papel de registro histórico do cinema não deve ser subestimad­o, principalm­ente quando sua credibilid­ade e importânci­a são colocadas em xeque. “A realidade atropelou a ficção. Não havia como prever o que está acontecend­o no País. Tudo tomou uma proporção que lembra como é importante o papel da arte no mundo – não deixar as pessoas esquecerem a nossa história”, acrescenta o diretor-geral.

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HBO Reta final. Isabel, Vicente, Dora e Manolo se despedem da Magnífica após incêndio

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