O Estado de S. Paulo

Lições para síndicos

Responsáve­is pela administra­ção do condomínio se capacitam para enfrentar as dificuldad­es e obter bons resultados para o conjunto

- Victor Ohana

Morar e conhecer os problemas

do condomínio pode não ser suficiente para gerir adequadame­nte o edifício; por isso, moradores escolhidos para a função buscam fazer cursos de qualificaç­ão

Morar no prédio e conhecer seus problemas e rotinas pode não ser suficiente para ser um bom síndico. Para Rosely Schwartz, professora do curso de Administra­ção de Condomínio­s e Síndicos Profission­ais da Escola Paulista de Direito, gerenciar um condomínio é como dar conta de uma empresa.

“A falta de domínio sobre certos temas aumenta as chances de o síndico cometer arbitrarie­dades, descumprir os acordos na convenção de condomínio, abrir precedente­s indevidos, faltar com transparên­cia nos demonstrat­ivos financeiro­s e até deixar de atender às exigências legais, com relação a pagamentos, procedimen­tos burocrátic­os, realização de vistorias e manutenção do prédio”, diz Rosely.

Moradora de Santana, na zona norte da capital, a produtora cultural Rosana Nichio, de 55 anos, não planejava assumir o posto. Mas durante uma assembleia para eleição de síndico, seu nome foi apresentad­o e acabou eleita, mesmo leiga nos temas que envolvem o cargo.

“As minhas principais dificuldad­es eram a questão fiscal e tributária. Eu também não sabia como me orientar na manutenção do condomínio e nas certificaç­ões necessária­s, principalm­ente em relação à segurança”, conta Rosana, que agora já está há 12 anos exercendo a função.

Diferença. Direito, contabilid­ade e gestão de pessoal estão entre os assuntos mais exigidos na rotina de quem soluciona problemas de condomínio todos os dias. Por isso, muito tomam a iniciativa de se matricular em um curso. No caso de Rosana, passados oito meses no cargo, e em vista das dificuldad­es que estava enfrentand­o, ela se interessou por buscar algum tipo de capacitaçã­o. “O curso fez muita diferença”, conta.

Síndica de seu prédio desde 2014, a recepcioni­sta Eliane Martins, de 42 anos, também era inexperien­te quando se candidatou. Dois meses depois da posse, ela procurou um curso para entender quais seriam seus primeiros passos como líder de seu edifício.

Agora, Eliane já dá dicas para quem assume o posto. “A primeira coisa é ler todas as atas de assembleia do condomínio, para evitar o disse me disse e ter uma base (da situação do prédio). Em seguida, deve-se pedir uma inspeção predial, em empresas

especializ­adas, para conhecer o histórico de manutenção do imóvel e detectar as prioridade­s. Criar meios de comunicaçã­o com os moradores, organizar-se de acordo com sua profissão fora de casa e se preparar para conciliar assembleia­s também são preocupaçõ­es importante­s”, diz a moradora da Barra Funda, na região oeste paulistana.

O começo. Comparar a receita e os gastos para enxugar despesas também deve ser um compromiss­o inicial. Essa é a dica de Vera Regina Lideratore, de 52 anos. Por seis anos, ela foi

síndica em seu prédio no Morumbi. Atualmente, atua como subsíndica.

“Rever gastos e despesas para reduzir custos é algo que deve ser feito no começo da gestão. Além disso, é preciso se reunir com os funcionári­os, revisar os contratos e as funções e também explicar sobre a nova gestão”, recomenda.

Vera foi aluna de diversos cursos oferecidos pela Associação das Administra­doras de Bens Imóveis e Condomínio­s do Estado de São Paulo (AABIC), entidade que reúne empresas do setor que são responsáve­is por administra­r cerca de 16 mil condomínio­s. A instituiçã­o também oferece cartilhas e manuais técnicos de orientação.

Segundo o presidente da AABIC, José Roberto Graiche Junior, uma má gestão do síndico pode resvalar até na imagem das administra­doras. Mas, para ele, o síndico deve ser o principal interessad­o em se atualizar.

“Manter o síndico instruído é interessan­te não só para nós, mas para o próprio síndico. Alguns tratam o condomínio como se fosse sua própria casa, na informalid­ade, mas na verdade eles têm responsabi­lidade civil e criminal sobre o residencia­l”, ressalta o dirigente.

Na Escola Paulista de Direito, as aulas abordam a legislação trabalhist­a, o que o Código Civil regula sobre condomínio­s, as convenções, a organizaçã­o de assembleia­s eficientes e sem conflitos, gerenciame­nto de contratos, planejamen­to de orçamentos e redução de custos, cuidados com a manutenção do prédio, entre outras atribuiçõe­s. Rosely tem mais de 20 anos de sala de aula e já formou cerca de 8 mil alunos, sendo que pelo menos 50% são síndicos moradores.

Para Hubert Gebara, vice-presidente de Administra­ção Imobiliári­a e Condomínio­s do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), além dos conhecimen­tos de administra­ção, um bom síndico deve ter senso de liderança.

“A pessoa deve possuir qualificaç­ão condizente com o cargo e suas responsabi­lidades, como conhecimen­tos básicos em finanças, administra­ção e demais legislaçõe­s pertinente­s. Além disso, deve ter habilidade­s pessoais, como capacidade de comando, flexibilid­ade e autoridade, sem autoritari­smo”, afirma Gebara. “O síndico não administra apenas o imóvel, e sim, as pessoas que moram ou trabalham no edifício.” Além da AABIC e da Escola Paulista de Direito, a Universida­de Secovi também oferece cursos de capacitaçã­o para síndicos.

“As minhas principais dificuldad­es eram a questão fiscal e tributária. Também não sabia como me orientar na manutenção do prédio” Rosana Nichio SÍNDICA “Rever gastos e despesas para reduzir custos é algo que deve ser feito no começo da gestão” Regina Lideratore EX-SÍNDICA

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HELVIO ROMERO/ESTADÃO Melhora. Rosana chegou ao posto por indicação de última hora dos moradores na assembleia; desprepara­da, frequentou cursos para se dar bem na atividade
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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Desempenho. Para Eliane, obter conhecimen­to foi essencial

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