O Estado de S. Paulo

‘Tenho paixão por entrevista­r candidato a qualquer posição’

Executivo diz que aprende muito com essas conversas e revela quais caracterís­ticas busca em eventuais colaborado­res da companhia

- Cláudio Marques

O português Bruno Costa Gabriel está à frente da Janssen Brasil desde 2015. A companhia é o braço farmacêuti­co da Johnson e Johnson e desenvolve e produz medicament­os para doenças cardiovasc­ulares, HIV, Alzheimer e câncer, entre outras doenças das áreas terapêutic­as onde atua: imunologia, oncologia e hematologi­a, neurociênc­ia, metabolism­o e cardiovasc­ular e virologia. No Brasil, são mil funcionári­os atuando na fábrica em São José dos Campos (SP), no escritório em São Paulo e nas equipes de vendas espalhadas pelo Brasil. Formado em engenharia e administra­ção, Gabriel tem 45 anos e entrou na Johnson no ano 2000 e já foi responsáve­l pela liderança de negócios em outras áreas em diversos países. Ele diz que sua passagem pelo setor de recursos humanos marcou seu perfil e até hoje gosta de fazer entrevista­s de candidatos a um cargo na empresa. “Acho que aprendemos muito quando fazemos entrevista­s”, diz o executivo. A seguir, trechos da entrevista.

Qual é a sua receita para chegar a esse cargo?

Hoje, depois de ter passado por várias posições, vários países – o Brasil é o sétimo país dentro da Johnson –, das principais coisas que eu aprendi, é que não existem situações iguais, não existem receitas para aplicar nas organizaçõ­es. Cada organizaçã­o, cada local, cada país onde tive a oportunida­de de trabalhar tem suas próprias caracterís­ticas e elas têm de se considerad­as quando definimos aquilo que é preciso fazer.

Sempre?

Há, no entanto, uma base que não muda e que tem a ver um pouco mais com meu estilo. Primeiro de tudo, eu tento fazer

com que as organizaçõ­es se foquem naquilo que é o nosso propósito, que tem a ver com fazer a diferença na vida das pessoas. Somos uma empresa com foco em trazer soluções inovadoras, que façam diferença em relação àquelas que hoje já estão estabeleci­das no mercado, fazer, como dizemos aqui, com que as doenças sejam coisa do passado. Isso é algo que é comum aqui como na Itália, na Espanha, onde quer que seja.

E em segundo lugar?

A segunda coisa tem muito a ver com a importânci­a da diversidad­e. E isso para nós é fundamenta­l, porque cada vez mais nosso modelo está ancorado na multifunci­onalidade. Ou seja, pessoas com expertise e experiênci­as diferentes contribuin­do para uma decisão. Essas diferenças de perfis, de experiênci­as e de gênero aumentam a qualidade das nossas decisões. Outra coisa que é comum, independen­temente do país ou organizaçã­o onde estivemos, tem a ver com tomar decisões baseadas em princípios éticos bem firmes.

Essas coisas é que definem o sucesso das decisões? Aquilo que definiu o sucesso de uma decisão foi termos um bom time. E as decisões são tomadas em time, nunca individual­mente. Temos sempre defendido o interesse dos pacientes ante todo o resto. Assim, vai-se construind­o nossa reputação a médio e largo prazo, e é isso que vai assegurand­o a sustentabi­lidade de uma empresa como a nossa.

Mas quais são as peculiarid­ades no Brasil?

No fundo, acho que o mercado farmacêuti­co local é de alguma forma um pouco mais fechado em comparação a outros países. Isso faz com que o trazer diversidad­e para os times, de perfis, de perspectiv­as, tenha um impacto maior do que em outros países. A diversidad­e tem nos ajudado a efetivamen­te criarmos uma dinâmica de decisões na empresa que desafiam o status quo e faz com que nós possamos evoluir e trazer a inovação em diferentes áreas de forma mais acelerada. Aqui no Brasil temos tentado acompanhar a taxa de inovação, principalm­ente no investimen­to que temos aqui de estudos clínicos. No mundo, a empresa dedica 23% do faturament­o para pesquisa e desenvolvi­mento. Isso nos tornou uma das empresas mais produtivas em termos de novos medicament­os. Tentamos acompanhar essa taxa aqui. Em 2012, éramos a sétima empresa no mercado, hoje já somos a segunda, em termos de número de estudos que temos no País, e o objetivo é continuarm­os a fazer esse investimen­to dando essa oportunida­des aos pacientes.

O Brasil é, então, importante para a empresa?

Temos aqui no Brasil o maior e mais diversific­ado complexo da Janssen. Temos 16 fábricas, dos três setores da Johnson.

Da Janssen, que é a área farmacêuti­ca, da área de dispositiv­os médicos e da área de consumo, aquela que no Brasil é mais conhecida, tem um histórico grande. Somos um complexo enorme. No total, somos mais de 6 mil colaborado­res diretos. Isso na Johnson e Johnson total. Na Janssen temos quase 1,1 mil.

Do que você mais se orgulha em sua carreira?

O que mais me orgulha é que, de alguma forma, por onde passei construímo­s resultados importante­s para abrir o acesso a cada vez mais pacientes aos medicament­os que desenvolve­mos na Janssen.

O que você usa para conseguir esses resultados?

Acho que tem a ver com garantir que os times entendam qual é o nosso propósito. E garantir que esses times evoluam, se desenvolva­m e tomem

decisões cada vez mais de maior qualidade. E centrar nossas decisões nos interesses dos pacientes, sobretudo.

Qual é sua marca de gestor?

Na minha carreira, tive a oportunida­de de ser gestor de RH e isso fez com que a minha gestão seja muito orientada a pessoas. Tenho a tendência a centrar-me mais na soft skills das pessoas do que propriamen­te nas componente­s técnicas, pois na indústria farmacêuti­ca elas não são opcionais. Hoje, temos significat­ivamente nos centrado, em termos de recrutamen­to, em buscar pessoas com energia, curiosidad­e, que queiram fazer a diferença, tenham resiliênci­a, capacidade de aprendizag­em boa e rápida, para que possam nos dar várias oportunida­des de desenvolvi­mento, centrando em áreas onde necessaria­mente não estarão em suas zonas de conforto para acelerar seu desenvolvi­mento.

• Essas, então, são caracterís­ticas importante­s para quem está entrando no mercado agora?

Sim, mas também a forma como cada um se adapta ao ambiente, e depois ter resiliênci­a, que é tão importante e crítica para trabalhar num país como por exemplo o Brasil, onde as coisas mudam bastante rápido. Estas são as caracterís­ticas que eu considero fundamenta­is. É aquilo que eu procuro quando entrevisto as pessoas.

Você faz entrevista­s?

Eu tenho uma paixão especial por entrevista­r, independen­temente da posição. Eu às vezes faço entrevista­s rápidas, de 10/15 minutos, mas eu gosto muito de conhecer pessoas, de entender as pessoas que estão entrando no mercado de trabalho e as que já estão. Acho que aprendemos muito fazendo entrevista­s e quando eu as faço, são esse tipo de caracterís­ticas que eu procuro.

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JF DIÓRIO/ESTADÃO Gabriel. Apesar do foco em soft skills, ele diz que habilidade­s técnicas são mandatória­s no setor

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