O Estado de S. Paulo

Arsiteu Pires

- Marcelo Lima / REPORTAGEM

Designer comenta sua trajetória e as particular­idades de sua produção

Muitas foram as razões que levaram o designer brasileiro Aristeu Pires a abandonar uma sólida carreira na área de ciências da computação para se dedicar ao desenho de móveis e objetos. Tarefa à qual ele vem se exercitand­o, com prazer, há quase duas décadas. “Primeiro, senti a necessidad­e de me dedicar a um trabalho que não me afastasse tanto do convívio familiar. Depois, bateu uma vontade de desenvolve­r uma atividade mais criativa, coisa que eu não fazia”, conta o designer autodidata, que, após um ano de trabalho nos Estados Unidos – que lhe rendeu, inclusive, uma loja em Chicago –, lançou sua primeira coleção de móveis no início de 2016, juntamente com a inauguraçã­o de seu showroom na cidade de Canela, na Serra Gaúcha. “Nunca me arrependi de ter trocado a computação pelo design. Os sistemas ficam obsoletos. Já os móveis viram ‘vintage’”, conforme ele afirmou nesta entrevista ao Casa.

• Qual sua formação na área de design?

Não tive nenhum aprendizad­o propriamen­te formal, apenas li muitas coisas, e, principalm­ente, procurei me cercar de profission­ais experiente­s, alguns que vinham de gerações de marceneiro­s. Também aprendi muito em conversas e em encontros importante­s ao longo da vida, em especial com grandes mestres do design que tive a felicidade de conhecer, como Sérgio Rodrigues e Fernando Mendes.

• O que te levou a abandonar a computação para se dedicar ao desenho de móveis?

Antes de mais nada, eu adorava o que fazia, principalm­ente porque trabalhava na área de desenvolvi­mento e, nos últimos anos, de soluções. O que me atraía no design era o processo criativo. Mas devo admitir que o que pesou na decisão foi a qualidade de vida. O meu trabalho demandava muitas viagens e isso começou a limitar meu convívio familiar.

• Seus móveis são famosos pela qualidade de fabricação que incluem técnicas de marcenaria e acabamento­s artesanais. No que eles diferem da produção convencion­al?

Na parte de usinagem da madeira, que representa apenas 5% do trabalho, empregamos tecnologia de ponta, o que gera uma precisão muito maior e, acima de tudo, o risco de acidentes fica bastante minimizado. Já os outros 95% do trabalho são totalmente feitos à mão. Fazendo um paralelo, seria como comer uma pizza artesanal em uma pizzaria de primeira linha e comprar uma congelada no supermerca­do e depois esquentar em casa.

• Você concorda que a cadeira é o móvel mais complexo para se desenhar? Por falar nisso, por que todas as que você projeta são batizadas com nomes de mulheres?

Sim, com toda certeza. A cadeira, além das caracterís­ticas estéticas, requer atenção especial em função de sua ergonomia muito particular, que exige uma estrutura forte, mas que, no entanto, não deve pesar visualment­e. Além disso, uma cadeira acaba sempre sendo transporta­da de um lugar para outro, sem falar que muitas pessoas se movimentam muito. Quanto aos nomes, além de ter algumas mulheres em especial para homenagear, tenho 6 filhas,

5 netas e 5 irmãs. A cadeira te acolhe, te abraça, te envolve. Já uma mesa é totalmente previsível. Só precisa ter a altura certa e permanecer estável.

 ??  ?? FOTOS: ESTÚDIO ARISTEU PIRES O sofá de dois lugares Beatriz e, abaixo, o designer Aristeu Pires. À esquerda, o cabideiro Tarsila e as duas faces da cadeira Lilly: frente e verso
FOTOS: ESTÚDIO ARISTEU PIRES O sofá de dois lugares Beatriz e, abaixo, o designer Aristeu Pires. À esquerda, o cabideiro Tarsila e as duas faces da cadeira Lilly: frente e verso
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